O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, encontrou uma forma para se esquivar do embate sobre os gastos públicos na gestão Lula-3 e o impacto para a taxa de juros no Brasil. Com a Selic, referência para economia, no maior patamar das últimas duas décadas (15% ao ano), a cúpula do BC por onde passa é questionada: até quando? Se o ambiente inclui políticos do governo e da oposição, que travam uma batalha em torno do equilíbrio fiscal, a resposta precisa ser muito bem calculada.

A estratégia para evitar qualquer deslize e interpretações de críticas à política fiscal do governo foi desviar a discussão para outro lado: os problemas nos canais de transmissão das elevações da taxa Selic para economia real. Em encontro com a Frente Parlamentar do Empreendedorismo nesta terça-feira, 8, Galípolo discorreu, diante dos mais de 100 convidados, entre eles, 13 deputados, sobre as “fricções” que existem na economia brasileira e que impedem que o cidadão comum se sensibilize, de fato, com a alta na taxa referência para economia determinada pelo Copom (Comitê de Política Monetária).

Um dos pontos colocados foi o fato de que muitos brasileiros usam linhas de crédito caras para resolver problemas de curto prazo, como o rotativo do cartão de crédito e, até pouco tempo atrás, o cheque especial. A lógica nesse caso é: quem está acostumado a taxas que passam dos 400% ao ano no cartão não se impressiona com 15% ao ano da Selic e a vida segue. As famílias se endividam a um custo alto e o mercado de crédito impulsiona a economia, alimentado por emprego e renda em alta.

Posição desconfortável
No entanto, na avaliação de especialistas, a questão fiscal é um problema a mais nessa equação, pois o risco de desequilíbrio das contas públicas e a expectativa negativa dos agentes de mercado em torno dessa variável fazem com que seja preciso mais juros para tentar frear a economia e, ainda assim, não está dando resultado. “Retomar uma queda consistente dos juros reais no Brasil passa por uma mudança crível na esfera fiscal, a qual se espera a partir de 2027”, destaca levantamento dos economistas da MB Associados.

O foco no debate sobre os canais de transmissão da alta da Selic para o mundo real adotado desde o relatório de política monetária, há cerca de duas semanas, ajuda o BC a sair da posição desconfortável de fazer críticas à política fiscal como um dos motivos para alta dos juros. Ainda mais no momento atual em que o governo trabalha para reconstruir as relações com os parlamentares diante do imbróglio pela alta das alíquotas do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Essa foi uma forma encontrada pela equipe econômica para garantir mais receitas e fechar as contas do governo federal em 2025.