PODER E POLÍTICA. SUA PLATAFORMA. DIRETO DO PLANALTO

‘Nova ordem’ da comunicação oficial espalha pânico (e silêncio) na Esplanada

Cresceu a tensão no governo. Ministros, secretários e técnicos estão acuados e temem falta de gente na Casa Civil para liberar a divulgação de medidas de casa pasta

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Uma semana após o anúncio de uma reformulação geral no comando da comunicação do governo federal, o clima na Esplanada dos Ministérios é um misto de tensão, apreensão e, em alguns casos, pânico. A mudança na Secretaria de Comunicação da Presidência da República, que já vinha sendo gestada, ocorreu na esteira da confusão envolvendo notícias falsas sobre novas regras para o Pix, que obrigaram o Ministério da Fazenda a revogar uma medida de fiscalização e expôs a falta de estratégia, de coordenação e de orientação.

A troca de Paulo Pimenta por Sidônio Palmeira foi comemorada, em especial, pela visão técnica e profissional do novo ministro, que é especialista em publicidade. No entanto, encerradas as festividades da posse, a insegurança se instalou e cresceu nesta semana, motivada em parte pela bronca dada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na reunião ministerial da última segunda-feira, 20, e pela decisão de centralizar todas as divulgações, “seja uma portaria ou instrução normativa”, segundo explicou o ministro Rui Costa (Casa Civil). De acordo com o ministro, a ideia é que a Casa Civil faça uma análise prévia do potencial que cada medida de todas os ministérios pode ter para o governo.

“Isso inviabiliza a boa comunicação”, avalia uma fonte do alto escalão do governo. “O governo tem que dar orientação, mas os ministérios devem ter autonomia para trabalhar”, desabafa. Para outro interlocutor oficial, “o desafio da comunicação atual está nas redes sociais, que não têm uma receita de bolo que sirva para todos” e a Casa Civil, argumenta, “não tem conhecimento técnico e nem braço para avaliar tudo o que acontece nos ministérios”. Para ele, “isso vai paralisar a comunicação na esplanada. Não há aprendizado para ninguém”.

A decisão do governo adicionou mais tensão e medo num cenário em que já havia apreensão se ações do cotidiano poderão ser distorcidas pela oposição criando novas falsas polêmicas nas redes sociais. “Depois que a crise acontece, é fácil achar o problema, mas duvido que alguém iria prever que uma medida técnica da Receita seria transformada numa mentira e distribuída em escala industrial”, avalia a fonte, em referência à instrução normativa da Receita que aumentava o poder de fiscalização sobre as operações com Pix.

O maior problema dessa centralização, de acordo com um funcionário graduado na esplanada, é que o governo não tem gente suficiente e nem com conhecimento técnico no Palácio do Planalto para gerenciar a comunicação dos ministérios. “Quem na Casa Civil entende tecnicamente de comunicação e de economia para acompanhar, por exemplo, os ministérios econômicos”, questiona. “No mundo de hoje, centralização é o caminho errado”, emenda, ressaltando que apesar de legítima a preocupação, a solução pode “ser um tiro no pé”.

Cada ministério tem sua peculiaridade. O Ministério da Fazenda, por exemplo, além da interlocução com o mercado financeiro e com o meio político, mexe diretamente com a vida real, e está no centro dos principais debates dentro do governo. O ministro Fernando Haddad é um alvo da oposição, também, por ser um possível candidato à sucessão de Lula. Não à toa, os vídeos manipulados falando de aumento de tributação sobre pessoas de menor renda usaram a imagem de Haddad. “É mais fácil para as pessoas acreditarem. A extrema direita elegeu temas econômicos, como Pix, para plantar nas pessoas uma imagem de estado tirano que quer controlar a vida das pessoas”, diz uma fonte do governo.

Nos últimos dias, alguns secretários e assessores graduados passaram a se sentir incomodados em falar com jornalistas que acompanham suas respectivas áreas, o que era rotina. Até as equipes técnicas mostram desconforto. “Já era difícil ouvir a cúpula. Agora, então, é que as decisões chegarão tomadas, sem discussão”, critica um técnico, ressaltando que “é impossível a Secom e a Casa Civil administrarem a comunicação de todos os ministérios”. Segundo ele, com o medo que se tem hoje, “melhor não comunicar nada porque, aí, não teremos problema”.

Isso é exatamente o oposto do que Lula quer. Na segunda metade do seu mandato, ele pretende aumentar a conversa com a população e a divulgação das realizações do governo. A avaliação do Palácio do Planalto é que a queda na popularidade da gestão atual, registrada nas últimas pesquisas de opinião, vem da dificuldade do governo em mostrar o que fez. O presidente quer reverter essa situação, mas, ironicamente, ao menos neste primeiro momento, o que impera é o silêncio.

search-icon-modal