Em seu primeiro dia de trabalho como novo ministro da Secretária-geral da Presidência da República, Guilherme Boulos (PSOL-SP) preferiu o almoço no restaurante dos funcionários do Palácio do Planalto, um espaço com preços módicos localizados no subsolo do prédio anexo. Ele teve a companhia de lideranças do movimento de motoboys, um dos focos de sua gestão na pasta, tarefa recomendada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Boulos veio para agitar e começou bem”, comentou um interlocutor do governo ao falar do que o presidente espera da pasta até 2026.
A interlocução com os motoboys é estratégica para Lula do ponto de vista eleitoral. Essa é uma categoria que, há alguns anos, aderiu em grande parte ao bolsonarismo e às ideias de trabalho intermitente propagadas pela direita. Na campanha ao Planalto, o petista tentou sensibilizá-los juntamente com os motoristas de aplicativos, mas as dificuldades de abordagem atrapalharam a aproximação.
No governo, Lula e o ministro Luiz Marinho (Trabalho) tentaram elaborar regras de proteção trabalhista que, até o momento, não foram amplamente aceitas pela categoria. Pela proposta, os aplicativos teriam de contratar, no mínimo, com registro do INSS.
A ligação de Boulos com os motoboys ocorreu durante seu mandato de deputado federal, e é essa aproximação que deve ser aproveitada por Lula. O diálogo desaguou na construção do projeto de lei 2479/2025, que estabelece remuneração mínima para os entregadores de aplicativo de entregas e mototaxistas, estabelece regras de transparência na contratação e cria obrigação de seguro de acidentes. Boulos ouviu as demandas da categoria e o texto foi assinado conjuntamente por parlamentares do PSOL, PP, Republicanos, PCdoB, PDT, Rede, PSB, PT e MDB.
Nova jornada
Ao discursar na posse, Boulos disse que viajará por todo país para atender ao pedido do presidente. Além da articulação com os motoboys, a mobilização que conduzirá as visitas será pela defesa do fim da jornada 6×1, proposta da deputada Erika Hilton (PSOL-SP) que teve grande aceitação nas redes sociais e ganhou espaço nas manifestações do Dia do Trabalhador, em maio deste ano. Na época, o governo não bancou a proposta. Marinho chegou a dizer que não via espaço para a aprovação.
Apresentada como uma Proposta de Emenda à Constituição, o fim da jornada foi encampado pelo governo e será uma das bandeiras eleitorais em 2026. Com a chegada de Boulos ao Planalto, a ideia é fazer desse texto um dos motes de ligação do governo com as ruas
A PEC prevê a redução da escala para quatro dias de trabalho e três de descanso por semana. O governo quer apoiar o projeto, mas negocia com a deputada uma modificação, para cinco dias de jornada e dois de descanso, o que facilitaria, na avaliação de membros do Planalto, a articulação com o Congresso. Na última quarta-feira, 29, essa possibilidade de mudança foi objeto de uma discussão da deputada com o ministro Fernando Haddad (Fazenda).
