Um fosso de 18 pontos separa os que reprovam o governo dos que o consideram ótimo ou bom. Nem mesmo no auge do Mensalão, o maior escândalo de seu governo, em 2005, Lula teve uma avaliação tão negativa. Com esse quadro, o “cobertor ficou curto” para o presidente nas eleições de 2026, avaliou Márcia Cavallari, diretora da Ipsos-Ipec, em entrevista à coluna. “No ano de 2005, o pior resultado dele foi 29% de ótimo e bom e 32% de ruim e péssimo, uma diferença de três pontos”, lembrou ela.

Hoje, segundo a pesquisa da Ipsos-Ipec, Lula tem 25% de avaliação positiva (ótimo e bom), contra 43% de ruim e péssimo. Todas as variáveis avaliadas mostraram insatisfação dos eleitores. A confiança no governo caiu de 53% para 37%, e a percepção negativa, que era de 31% no início do mandato, alcançou 50%. Mesmo após uma vitória apertada em 2022, com 51% dos votos válidos, o apoio que Lula tinha ao assumir o cargo era maior do que o atual, dois anos e meio depois.

“Todas as variáveis medidas nessa pesquisa são predominantemente negativas: a avaliação do governo como um todo, a aprovação da forma como ele administra o país e a confiança”, apontou Cavallari. Embora sejam os piores números até aqui, eles apenas oscilaram desde março, quando o fosso se abriu, impulsionado pela crise do Pix e pela alta no preço dos alimentos. O escândalo do INSS agravou ainda mais o cenário.

O governo tenta se apoiar nos dados da inflação, que mostram desaceleração, mas isso não tem se traduzido em alívio para a população. “A inflação não é o índice, mas o que as pessoas percebem como inflação, ao entrar no mercado e achar que estão comprando menos com o mesmo dinheiro”, explicou Cavallari. “Os preços ficaram em um patamar mais alto, e esse é um problema.”

O levantamento revela que as áreas com avaliação mais crítica são combate à controle e corte de gastos públicos (55% de ruim/péssimo), combate à inflação (55%) e segurança pública (52%). Já os setores com maior avaliação positiva são educação (32%), política externa (28%), meio ambiente (26%) e combate à fome e a pobreza (26%). Ainda assim, mesmo nessas áreas mais bem avaliadas, a percepção negativa ou regular supera a positiva. A economia (31% positivo) e o combate ao desemprego (32%) têm desempenho intermediário, mas abaixo do que seria necessário para reverter a tendência.

Ainda assim, a recuperação não está descartada. Cavallari lembrou que Lula chegou a 29% de avaliação positiva em 2005 e terminou o segundo mandato com 80% de aprovação, conseguindo eleger sua sucessora em 2010. “Ele tinha um colchão grande ali para gastar. Aqui, o cobertor está mais curto.”

A possibilidade de melhora existe, mas exige um esforço coordenado do governo para mostrar entregas concretas e se comunicar melhor. “Lula está numa situação ruim, mas não se pode dizer que ele não possa se recuperar ao longo do ano e no ano que vem, na eleição, se for concorrer.”

A corrida eleitoral, por si só, pode gerar algum impulso. Segundo Cavallari, gestores — não apenas presidentes, mas também governadores e prefeitos — costumam melhorar sua imagem durante as campanhas, por conta de uma comunicação mais efetiva e direcionada. Um exemplo vem da própria base petista: no primeiro mandato, Dilma Rousseff chegou a 30% de aprovação em 2013, durante as manifestações de rua, mas se recuperou e chegou a 40% em 2014, durante o período eleitoral.

O desafio para Lula, no entanto, é que a base de apoio atual está muito mais estreita — e o cobertor, mais curto.