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Os 6 desafios de Sidônio na Secom

Além de “fazer chegar na ponta” os feitos do governo, novo ministro da Secom precisa incluir na sua lista de trabalho a comunicação de Lula, de Haddad, do PT, da coalizão política e a dele mesmo

Foto: Divulgação
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O desafio do publicitário Sidônio Palmeira no comando da comunicação oficial irá além de comunicar bem os feitos do governo nos dois últimos anos de mandato do presidente Lula e, como ele mesmo disse, “fazer chegar na ponta” para a população. Para que a comunicação funcione como quer o governo, será preciso desobstruir canais e recuperar a credibilidade de peças importantes que sofreram forte desgaste na primeira metade desta gestão, em especial, no final de 2024, e uma atenção especial para a própria comunicação, se não queimar a chegada.

Isso exigirá ajustes na comunicação pessoal não só do presidente Lula, mas, também, do ministro Fernando Haddad (Fazenda) e do próprio PT. Este último, responsável por fortes ruídos com o governo e a equipe econômica, o que acabou se refletindo em dados econômicos e na percepção sobre o governo.

O ministro Fernando Haddad (Fazenda) é uma peça importante na comunicação do governo e a conexão com o mercado financeiro, que o presidente Lula tanto critica. O ministro entra na segunda metade do mandato com seu poder de comunicação arranhado depois do desgaste vivido durante as negociações, anúncio e tramitação no Congresso do pacote de contenção de gastos, no final de 2024. A percepção que ficou para boa parte dos analistas e investidores é que a fala dele não representa mais uma posição de governo, se não tiver aprovação de Lula.

Para o mercado, as intenções de Haddad são claras, porém, não se sabe se elas resistirão à oposição do PT, como aconteceu com medidas de equilíbrio fiscal derrubadas no pacote fiscal por pressão do partido do presidente. Recuperar a credibilidade da comunicação de Haddad é essencial porque o cargo de ministro da Fazenda é um importante canal para influenciar movimentos nos mercados.

Antipatia
A valer os resultados das últimas pesquisas de opinião divulgadas em dezembro, o governo tem dificuldade em faturar com o que faz de bom ao mesmo tempo que potencializa o que há de ruim. Nesse contexto, importante levar em conta que há ainda uma antipatia de metade da população que viu seu candidato perder as eleições para Lula e as picuinhas pessoais do presidente Lula com o mercado financeiro, que também geram problemas sérios de comunicação.

Outro ponto importante que deve entrar nessa conta é a necessidade de bandeiras de governo que conversem com as demandas de uma sociedade em transformação, com mudanças tanto na composição da população quanto na estrutura econômica. Tudo isso faz com que o que, no passado recente, seria facilmente refletido em apoio nas urnas, hoje, pode ser visto apenas como o novo normal e, nesse caso, o eleitor espera mais.

Conquistas econômicas como controle da inflação, por exemplo, que já elegeram presidentes, hoje, podem derrubá-lo do cargo, mas, segundo especialistas, dificilmente seria uma bandeira eficiente de campanha porque as pessoas já têm isso como certo. Nessa mesma linha, a transformação tecnológica vivida no mundo se reflete em gerações de trabalhadores mais desconectados do que há alguns anos era o anseio dos jovens: o primeiro emprego com carteira assinada. Na era do Google, Apple, Uber e AirBnB, muita gente quer empreender. Os programas de governo precisam conversar com essas necessidades porque, pelo que dizem estudiosos, bolsa família não ganha mais eleição.

Coisas de Brasília
Há ainda outros dois fatores importantes. O primeiro deles diz respeito à coalizão política de Lula. Se unificar a comunicação de 38 ministérios não seria trivial numa situação normal, só complica mais se considerar que são pastas comandadas por 12 partidos que vão do PSOL da ministra Sônia Guajajara (Povos Indígenas) ao PP do ministro André Fufuka (Esporte), passando pelo PSD do ministro Carlos Fávaro (Agricultura), pelos ministros sem partido e esbarrando no PT do ministro Haddad que não é o mesmo PT do ministro Luiz Marinho (Trabalho). E o ingrediente eleitoral de 2026 tende a bagunçar ainda mais a comunicação.

O segundo fator refere-se ao próprio Sidônio que assumirá uma Secretaria de Comunicação Social da Presidência onde sobram críticas à atuação do ex-ministro Paulo Pimenta e que parece ser a única responsável pela baixa popularidade do governo. A comunicação é a culpada e, Sidônio, a solução. Essa estratégia que tira o presidente Lula e os demais ministros da primeira fila das críticas pode ser uma arapuca para o novo titular da Secom.

Esse clima de que nada presta e, portanto, é preciso mudar tudo e todos pode ser um risco para ele próprio. Importante lembrar o novo ministro e qualquer pessoa que ele leve para seu time precisará interagir diariamente com os funcionários públicos da casa que, na prática, fazem a máquina pública girar.

A Secom de Paulo Pimenta tão criticada é feita por pessoas e a chegada de “salvadores”, mesmo que sejam próximos de Lula, não ajudará Sidônio em nada. O publicitário negociou previamente com o presidente carta branca para montar o time e trabalhar. No entanto, no dia a dia, para tomar um cafezinho, conseguir um celular oficial, conseguir embarcar o avião presidencial ou exercer qualquer coisa na sua função, ele terá que lidar com a turma da casa. Assim, é de bom tom que os que fazem a Secom hoje também sejam parte da construção do novo. Afinal, eles já estavam por lá e, muito provavelmente, permanecerão seja quem for o novo presidente.

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