O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), voltará das férias com um ambiente bem diferente do que deixou no início do recesso parlamentar, há duas semanas. Ele tem pela frente desafios distintos. Um deles é acertar o tempo certo de suas escolhas políticas para 2026: algum momento, precisará escolher de que lado ficará em um ambiente que voltará mais polarizado devido às sanções impostas pelos Estados Unidos ao Brasil.

Algumas possibilidades estão desenhadas dentro do projeto eleitoral de Motta. Por isso, as decisões que ele tomar em relação ao mandato do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), ao projeto de anistia dos condenados por tentativa de golpe de estado, ou ainda sobre as medidas do governo americano contra o Brasil pesarão na aliança que ele pretende construir no estado na próxima eleição. 

No leque de opções eleitorais, no início do ano o presidente da Câmara colocou na mesa a possibilidade de se lançar ao governo da Paraíba. Essa hipótese, no entanto, perdeu força nas últimas semanas e Motta se prepara para disputar mais um mandato de deputado federal. As conversas, no momento, giram em torno da formação de uma chapa que teria o prefeito de Patos (PB), Nabor Wanderley (Republicanos), pai de Motta, como candidato ao Senado. A outra vaga para o Senado ficaria com o atual governador do estado, João Azevedo (PSB). Nesse formato, o acordo pode contar com o apoio do presidente Lula.

Efraim com Michelle
O palanque seria puxado pelo atual vice-governador do estado, Lucas Ribeiro (PP), que ficaria no cargo e tentaria a reeleição. Para a combinação seguir nessa linha, talvez Motta tenha de escolher o lado político bem antes do que gostaria de fazê-lo. Um fato político da semana passada pressiona Motta a tomar logo uma decisão: o senador Efraim Filho (União Brasil) teve a sua candidatura ao governo lançada pela ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, recentemente filiada ao PL do Distrito Federal.

Esse gesto puxa para o estado a polarização entre direita e esquerda. Por tradição, a política local costuma ser definida sem contaminação das disputas nacionais. “A Paraíba é de centro”, define um aliado do presidente da Câmara. Com o apoio de Michelle, Efraim veste a camisa do ex-presidente Jair Bolsonaro e se afasta das posições mais moderadas. Sobra, então, mais espaço para a aliança negociada entre o grupo de Motta e o governador João Azevedo, que agregaria o centro e a centro esquerda. Nesse cenário, não interessa ao presidente da Câmara embarcar nas propostas radicais de Eduardo Bolsonaro.