Apontado como candidatíssimo ao Planalto nas eleições do ano que vem, embora ainda negue a intenção, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) participou nesta sexta-feira, 4, do fórum promovido em Lisboa pelo ministro Gilmar Mendes com um discurso meticulosamente equalizado que soou como moderado, técnico e politicamente hábil aos ouvidos de um público que, claramente, se opõe ao ambiente de polarização radical que domina o país nos últimos anos.

Embora com carreira política nascida no bolsonarismo, e a despeito de por vezes ainda prestar reverência ao ex-presidente Jair Bolsonaro para manter vivas as chances de ter seu apoio, Tarcísio assume cada vez mais uma linha de candidato de centro.

Nos dois painéis para os quais foi convidado, um sobre relações de força internacionais e novos blocos militares e outro sobre os desafios da segurança pública no Brasil (um dos assuntos que, aliás, devem dominar a pauta da sucessão presidencial), o governador de São Paulo adotou um tom ameno, misturando conhecimento técnico com uma abordagem política moderada, no que foi lido como um discurso de quem é, sim, candidato à Presidência.

Especialmente no segundo painel, o de segurança pública (nas suas palavras, um “tema supercaro para a população brasileira”), Tarcísio procurou mostrar não só que tem o diagnóstico do assunto como exibiu possíveis receitas para tentar solucionar o problema – e, sem recorrer a arroubos, falou em soluções não apenas de âmbito estadual, mas nacional. Defendeu, por exemplo, a ampla cooperação entre as diferentes esferas de poder, coisa que alguns governadores de direita rejeitam. Em mais um sinal de moderação, ele não economizou nos gestos de simpatia a integrantes da cúpula do Judiciário, ao atual chefe da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, homem de confiança do presidente Lula, e ao procurador-geral da República, Paulo Gonet, que participavam do painel.

“Aqueles que lá atrás pensaram no dístico da bandeira nacional foram muito felizes, ordem e progresso, e não existe progresso sem ordem”, disse ao abrir a apresentação, para em seguida defender mais vigilância nas fronteiras, em portos, aeroportos e rodovias, mais eficiência no combate à lavagem do dinheiro das organizações criminosas e mais investimentos em equipamentos para as forças de segurança.

Para Tarcísio, é preciso revisar regimes especiais de tributação nos estados que permitem que o crime organizado lave dinheiro, por exemplo, no setor de combustíveis e “abraçar prefeitos” para impedir que as facções sigam se infiltrando em organizações sociais contratadas para cuidar de sistemas municipais de saúde e operando no setor de coleta de lixo. O governador falou ainda em ampliar a capacidade da Justiça Eleitoral de impedir candidaturas patrocinadas pelo crime organizado com a intenção de entrar no poder público.

“Fica muito claro que se não houver uma grande cooperação a gente não vai ter sucesso”, defendeu, acrescentando que sufocar as facções tende a levar naturalmente à redução da violência no país. “Se a gente tiver a fórmula para combater o crime organizado nós vamos resolver o problema da violência no Brasil. Uma parcela considerável dos homicídios no Brasil tem relação com o tráfico de drogas, com a disputa de pontos de venda e, de fato, a presença do tráfico naquelas comunidades mais vulneráveis é o que afasta muitas vezes o Estado daquele cidadão que mais precisa da presença do Estado.”

O governador defendeu a adoção de estratégias mais eficazes de monitoramento dos chefes das organizações e de suas teias de lavagem de dinheiro como forma de impedir que elas sigam atuando e crescendo. “Se a gente conseguir monitorar esses caras, se a gente conseguir combater esse crime, a gente vai puxar o fio da meada e, em pouco tempo, vai botar muitas cabeças atrás das grades e, obviamente, entrar nessa questão da monetização (das facções)”, disse.

“Ninguém vai vencer o Estado. O crime não vai vencer o Estado. Isso não vai acontecer. O Estado sempre vai ser mais poderoso que o crime. O Estado vai garantir condição aos nossos empresários de investir, vai garantir a segurança para os nossos cidadãos. Eu tenho certeza de que, no final, o bem vence o mal e o Estado vence essa guerra”, concluiu Tarcísio, que cultiva boa relação com o ministro Gilmar do STF, idealizador e principal promotor do encontro em Lisboa.