A alta persistente do dólar, que nesta quarta-feira fechou em R$ 6,26, a maior cotação da história, não impacta imediatamente a posição do Brasil nos rankings internacionais da economia global, mas sinaliza um ano difícil para o país em 2025. É o que explica à coluna o economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala.
“Quando a taxa de câmbio se desvaloriza muito, como é o caso agora da economia brasileira, parece que a economia ficou menor em dólar. Mas isso não é verdade. Tem uma dificuldade de medir o tamanho das economias em dólar: quanto mais desvalorizado, parece que a economia é menor. Mas tem uma outra medida, que os economistas chamam de dólar PPP, que ajusta esse problema.”
Para saber se o Brasil continuará, em 2025, como a décima economia do mundo, Gala explica que é preciso medir o PIB de todo o mundo e ver como as moedas se desvalorizaram para fazer a medida em dólares correntes. “Mas, para evitar esse tipo de problema, os economistas usam o dólar ppp, de paridade de poder de compra, que evita essas grandes oscilações da moeda. Não faz sentido dizer que a economia caiu ou subiu porque o dólar desvalorizou ou valorizou. De verdade, o Brasil está do mesmo tamanho”, explica o economista, que é professor na FGV-SP.
No entanto, a alta do dólar "deve ter um efeito inflacionário catastrófico”. Segundo o economista, a previsão para o ano que vem é que a inflação chegue próximo de 5%, como neste ano. “Já está contratada no Brasil uma onda inflacionária por conta dessa desvalorização da moeda brasileira.”
O segundo efeito da alta do dólar “é que o Banco Central foi obrigado a dar um choque de juros brutal [com elevação estimada em 15%], que vai desacelerar muito a economia e o crescimento do ano que vem”, conforme avalia Paulo Gala.
O economista aponta que as medidas propostas pelo pacote fiscal são insuficientes para acalmar o dólar.
"É menos do que precisaria ser feito e demorou muito para andar. Demorou dois meses. O governo criou uma crise desnecessária, porque essa disparada do câmbio obrigou o Banco Central a dar um choque de juros e isso vai provocar uma desaceleração brutal da economia brasileira. O que vai demandar outros pacotes, outras medidas”, afirma o economista.