O tarifaço de 50% anunciado na quarta-feira, 9, por Donald Trump teve efeito imediato na economia e na política brasileira. Para os exportadores, as medidas da Casa Branca representam prejuízos e insegurança quanto ao futuro. A oposição tenta culpar Lula e o STF pelo aumento da taxação, mas se desgasta com as ligações com o presidente dos Estados Unidos. O governo aposta no discurso de defesa da soberania nacional e procura atrair setores do empresariado insatisfeitos com a represália americana.
Como fato político sem precedentes nas relações entre os dois países, o anúncio de quarta-feira terá repercussão nas eleições de 2026. Mas o peso real desse episódio nas candidaturas a presidente vai depender de seus desdobramentos, das negociações diplomáticas, das reações do Brasil e do comportamento imprevisível do governo Trump.
Por enquanto, Lula ganha fôlego com a defesa dos interesses nacionais, mas o resultado político de seus movimentos vai depender do sucesso das tratativas para as exportações brasileiras. Se nada mudar, as medidas de Trump começam a valer a partir de agosto.
O Palácio conta com um desempenho favorável do presidente nessas negociações para melhorar sua popularidade, que ganhou alguns pontos nas últimas semanas com a ofensiva em torno da taxação dos super-ricos.
Alcolumbre e Motta pedem diálogo
Em nota oficial divulgada na tarde de quarta-feira, 10, os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), adotaram tom cauteloso nas referências às medidas dos Estados Unidos. Os dois chefes do Legislativo pediram “diálogo nos campos diplomático e comercial” como resposta às “novas taxações sobre setores estratégicos da economia brasileira”.
Alcolumbre e Motta lembram que o Congresso aprovou a Lei da Reciprocidade Econômica, “um mecanismo que dá condições ao país, ao nosso povo” de proteger a soberania nacional. “Estaremos prontos para agir com equilíbrio e firmeza em defesa da nossa
economia, do nosso setor produtivo e da proteção dos empregos dos brasileiros”, diz o terceiro e último parágrafo da nota.
O tom cuidadoso da manifestação revela a preocupação dos dois comandantes do Parlamento em não bater de frente com os setores mais radicalizados da oposição, ligados ao ex-presidente Bolsonaro e admiradores do governo americano. Poucas horas antes do anúncio do tarifaço, a Comissão de Relações Exteriores da Câmara aprovou uma moção de louvor a Donald Trump. Motta e Alcolumbre foram eleitos para seus cargos com amplo apoio da bancada bolsonarista.
Arthur Lira manteve taxação de 10% de IR a partir de R$ 50 mil mensais, mas com exceções
Apresentado na quinta–feira, 10, o relatório do deputado Arthur Lira (PP-AL) sobre o projeto do governo que regulamenta o Imposto de Renda contém algumas mudanças em relação ao texto original, mas manteve os pontos mais relevantes. Quem ganha até R$ 5 mil mensais, ficará totalmente isento de IR, e a faixa de desconto parcial foi ampliada de R$ 7 mil para R$ 7.350,00 mensais.
Para Lira, o objetivo do projeto não é de arrecadação e, sim, de justiça tributária. Esse foco segue na linha da campanha deflagrada por setores governistas nas últimas duas semanas em defesa da taxação dos altos rendimentos. Produzidas com recursos de inteligência artificial, vídeos divulgados intensivamente pelas redes sociais caracterizaram o Congresso como “inimigo do povo” por não votar a isenção do IR nem cobrar mais das classes mais endinheiradas.
A previsão na Câmara é que a comissão especial vote o relatório de Lira na próxima semana. O texto somente deve ser levado ao plenário no segundo semestre.
Galípolo reajusta o discurso e evita falar de política fiscal
O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, fez uma ligeira e significativa correção do discurso em relação à inflação. Antes, o chefe da autoridade monetária sempre citava os problemas nas contas do país ao tratar dos aumentos de preços acima da meta. Agora, ele prefere deixar de lado esse aspecto quando trata publicamente do assunto.
Foi assim, por exemplo, na carta aberta que Galípolo divulgou para explicar as razões de a inflação acumulada de 12 meses ter ficado quase o dobro dos 3% estabelecidos pelo arcabouço fiscal. O termo “política fiscal” não foi usado no documento. O presidente do BC citou outros preços que pesam sobre o IPCA: gasolina, alimentos industrializados, serviços, vestuário, automóveis e preços administrados.
Ao evitar referências às questões fiscais, Galípolo alivia um pouco o governo de um aspecto explorado pela oposição para criticar a política econômica conduzida por Fernando Haddad.