Nikolas Ferreira diz que a internet é a sua defesa. Mais que isso, as redes sociais são a arena em que o deputado se coloca em um confronto permanente contra o que chama de “marxismo cultural” e “ideologia de gênero”. Filho de pastor, numa linguagem simples e persuasiva, ele mira nos jovens e nos cristãos, especialmente evangélicos. Com isso, a pauta é sempre família, religião e costumes.
Se você perguntar ao ChatGPT, é mais ou menos isso que ele dirá do método de Nikolas. Mas o rapaz é mais sofisticado que isso. Nikolas tem o dom da palavra, sabe se comunicar em ambientes muito diferentes e para uma diversidade ampla de interlocutores.
Sabe ser irônico, ferino, mordaz, incisivo, bravo, sutil. Sabe como escapar de perguntas incômodas e como tentar frear seus interlocutores, explorando eventuais fragilidades. E sabe tudo isso num mundo em que a maioria é provocada a todo tempo a se comunicar, no zap, no TikTok, no Instagram, sem ter 1% dessas competências. Aí está seu talento.
Assim, o deputado vai arregimentando um rebanho de mais de 21 milhões de seguidores, somando todas as redes sociais. Vídeos curtos e polêmicos, gatilhos emocionais, memes, ironia, clickbait e aproveitamento do fato relevante. Nikolas tem agilidade para se engajar nos trend topics.
É adepto dos “nós contra eles” e se coloca como um vigilante do conservadorismo a ponto de colocar uma peruca para desqualificar a luta LGBTQIA+. Mas, espremido, tem a solidez de um caqui. Em vez dos assuntos complexos de economia, envolve temas como o Pix numa narrativa que tem começo, meio e fim bem fáceis de serem compreendidos — mesmo que o roteiro seja falso.
Seus vídeos são projetados para manter a atenção e gerar compartilhamento. Faz edições rápidas, insere textos chamativos e usa música e efeitos sonoros. Usa humor e provocação. Busca os cortes que polemizam e, falso crítico da “lacração”, é um lacrador contumaz. E quando não lacra, edita para fingir que lacrou.
Em conversa com a coluna, Nikolas disse que não tem marqueteiro nem publicitário. E que aprendeu tudo sozinho. “Entre os meus amigos, eu era o que menos tinha curtidas. Eu não sabia mexer. Nunca tive um curso de marketing.”
O deputado, que teve 1,4 bilhão de visualizações em seu Instagram em janeiro, disse que escreve o roteiro dos vídeos no bloco de notas do celular e depois vai a um estúdio próximo de sua casa, em Belo Horizonte, para gravar.
Os vídeos de TikTok são editados por ele. Os demais, por assessores. Nikolas disse não ter maqueiro nem publicitário que o ajude.
Mostrou à coluna o roteiro do vídeo sobre o Pix, que teve mais de 200 milhões de visualizações e gerou respostas do governo e de figuras da esquerda, como a deputada Erika Hilton. “Hoje, em engajamento, eu sou o 11º do Brasil”, afirmou.
E mais: Nikolas é camaleônico. Na entrevista que concedeu no estúdio do PlatôBR, no Congresso, no sábado, 1, foi polido a maior parte do tempo. Depois, cedeu ao instinto de influencer. No tema das deportações de Trump, que tanto afetam as famílias mineiras, fez um corte para esconder que tentou não se posicionar e tascou em suas redes chamando-me de “blogueiro lulista”.
Mal sabe Nikolas que, embora discorde de praticamente tudo que fala e da ética intrínseca a esse método, reconheço seu talento. Mas Nikolas quer ser senador, mas a lei não autoriza a candidatura para o Senado de ninguém com menos de 35: o rapaz tem 28. Aliás, idade suficiente para começar a deixar de lado o TikTok e virar gente grande.