A população desconfia, mas o Governo brasileiro tem certeza, de que nada mais será como antes nos bastidores político e administrativo do Instituto Nacional de Seguridade Social, depois da desconfortável e incomoda avalanche de desvio de dinheiro destinado aos aposentados do País. As investigações da Policia Federal, que identificaram entidades se apoderando ilegalmente de bens de segurados, levaram à prisão de servidores e motivaram a demissão do Presidente do INSS e a queda do Ministro da Previdência, que foi lento e omisso ao ignorar as denúncias. Meio que atabalhoado e surpreso, o governo Lula agora faz de tudo para dar a impressão de que as coisas vão se ajustar no momento certo, ninguém vai ficar no prejuízo e que a vida segue seu curso. Como tem que ser, ou deveria ser.

Claro que o estrago foi grande, e ninguém precisa ser especialista no assunto para entender que as sequelas deixadas por este assalto a céu aberto vai gerar consequências irreparáveis, danos que jamais serão recuperados. Para uma entidade como o INSS, que nunca desfrutou de explícita manifestação de apreço e afeto por parte da comunidade, esse escândalo causa um efeito devastador. O número de pessoas afetadas com o prejuízo financeiro beira a 4 milhões, dados ainda por confirmar.

O volume do dinheiro desviado de forma ilegal ultrapassa a casa dos R$ 6,3 bilhões. Impossível ainda qualquer definição sobre o tamanho exato do desgaste moral, administrativo e financeiro que toda essa vergonhosa realidade nos traz. Analistas experientes, e com mecanismos apropriados para alcançar informações mais corretas sobre o assunto, traçam um futuro nebuloso para o instituto. Há quem diga que a curto ou a médio prazo, o mais sensato a se fazer seria uma total desmontagem da atual administração do órgão, e começar do zero um processo de recuperação.

Fontes do próprio INSS, com raízes fincadas na instituição desde sua fundação em junho de 1990 ainda como INPS, arriscam dizer que por mais que se busque reparos aos danos causados até agora, ainda sobrarão ervas daninhas que jamais serão exterminadas, como imaginam ingênuos inventores de soluções tidas como efetivas. Um recomeço, ou uma filtragem competente, talvez fosse o ideal. Para o cidadão comum, principalmente aquele que em algum momento tenha que buscar amparo ou apoio na entidade, essa previsão não é nada animadora. Esse mesmo cidadão se vê órfão diante do gigantismo de toda essa arruaça, muitas vezes já considerada quase que inacreditável.

Como esperado, o fato deixa de ser apenas um objeto da perícia policial e invade o meio politico, afeta a área econômica do governo e coloca no mesmo cenário personagens de diferentes canais de atuação. O problema é extremamente grave, e quem diz ter a solução a curto prazo está desconectado com a realidade do Pais. Até os dias de hoje, apenas um relatório de 1.900 páginas esmiuçando tudo que se sabe sobre o assunto foi concluído, e vários outros estão sendo feitos. Mais de 30 entidades suspeitas de terem se beneficiado desse furto desavergonhado estão na mira das investigações policiais, algumas delas podem estar próximas de entidades sérias, que por tabela temem ser contaminadas.

Como sempre acontece, as primeiras providências anunciadas pelo governo na tentativa de acalmar pessoas prejudicadas carecem de explicações detalhadas, geram insegurança sobre se de fato terão direito ao ressarcimento. E, em muitos casos, transfere para o cidadão a tarefa de buscar pessoalmente as respostas para um problema que ele não criou. Sabidamente, o universo de pessoas aposentadas, ou de alguma forma beneficiadas pelo INSS, difere daquele ambiente mais habituado às modernidades do mundo digital. Não por acaso, segundo as investigações, foi justamente esse ambiente um dos mais afetados pelos fraudadores e criminosos.

Regiões nordestinas, pessoas com mais de 65 anos e aquelas com pouca escolaridade também estão entre as vítimas mais visadas pelos oportunistas desonestos. Ainda sem uma data especifica, e sem detalhar como tudo será feito, o governo garante que todos aqueles que tiveram seus proventos surrupiados terão os valores de volta. De onde sairá o dinheiro do resgate ainda está sendo estudado, mas tudo indica que a solução está bem encaminhada. Para que a instituição INSS retome integral ou parcialmente a sua credibilidade talvez ainda demore algum tempo. Ou nunca aconteça.

No histórico do órgão que foi criado pelo governo para servir de amparo, apoio e sustentação a aqueles que anos a fio serviram ao país, a balança pende para o lado negativo, com louvor. Ao longo do tempo as criticas pesavam sobre longas filas no atendimento, demora nas respostas a pedidos de auxilio doença, excessiva burocracia na concessão de auxilio desemprego, informações incompletas pelo atendimento por telefone (ramal 135) e falta de sintonia com os demais órgãos do governo federal. O que se espera agora é que os responsáveis pelo setor pelo menos se preocupem em dar uma resposta digna a quem sempre foi desconsiderado. Quase o pais todo.

José Natal é jornalista com passagem por grandes veículos de comunicação como Correio Braziliense, TV Brasília e TV Globo, onde foi diretor de redação, em Brasília, por quase 30 anos. Especializado em política, atuou como assessor de imprensa de parlamentares e ministros de Estado e, ainda, em campanhas eleitorais