Ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nesta quarta-feira, 15, nas comemorações do Dia do Professor, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), adotou um tom politicamente alinhado ao petista, uma semana depois de ter deixado “caducar” na Câmara a medida provisória que poderia render R$ 35 bilhões de receita aos cofres do governo.

Motta destacou que a instituição, sob sua gestão, é parceira do governo, em uma clara tentativa de deixar no passado a imagem de “congresso inimigo do povo”, exacerbada nas manifestações contra a chamada “PEC da Blindagem” e o projeto da anistia aos condenados pela tentativa de golpe de Estado.

O presidente da Câmara iniciou seu discurso sob vaias e gritos de “sem anistia” que duraram o tempo dos cumprimentos. Lula, nesse momento, se posicionou ao lado dele no palco.

Os gritos cessaram e Motta continuou, um sinal de unidade com o governo. “Desde que tive a oportunidade de me tornar presidente da Câmara, nós colocamos a pauta da Educação como uma prioridade. E tive a oportunidade de, ao lado do senhor, por diversas vezes, discutirmos como o Congresso Nacional pode apoiar o governo federal nessas iniciativas que são fundamentais para que a educação pública do nosso país possa melhorar. E temos feito isso na prática. presidente”, disse Motta, olhando para Lula. 

Na sequência, o presidente da Câmara disse que era uma “honra” estar ao lado de Lula no Dia do Professor e se referiu ao petista como “o presidente que mais fez pela educação no Brasil”.

Lula discursou em seguida e se voltou para o presidente da Câmara dizendo que ele sabe que “esse Congresso nunca teve a qualidade de baixo nível como tem agora”. “Aquela extrema direita que se elegeu na eleição passada é o que existe de pior”, apontou. Apesar do ataque duro do petista contra o Parlamento, o presidente da Câmara não respondeu.

Política de gestos
Os gestos no palanque refletem o novo momento de aproximação entre Lula e Motta. Desde a derrubada da MP, o governo partiu para o enfrentamento político com o Centrão e demitiu pessoas que ocupam cargos na Esplanada, nos bancos estatais ou em órgãos da administração pública indicados por parlamentares ou partidos que não se obrigaram a votar a favor dos interesses do Planalto.

A busca aos infiéis tem, principalmente, um objetivo principal: mais que organizar a base no Congresso, Lula quer reunir o grupo que estará com ele nas eleições de 2026, quando tentará se reeleger a um quarto mandato.

Nesse novo momento de relação com Lula, Motta ficou de fora das críticas do Planalto, pelo entendimento de que ele fez o possível para aprovar a medida, mas não teve condições de segurar a revolta dos deputados, sem cargos ou emendas a oferecer. Agora, com as mudanças, o governo deve contemplar Motta com mais instrumentos para fazer política, como já ocorre com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).

A intenção do Planalto é deixar com Motta a condução das medidas que serão tomadas para recompor a perda de receita decorrente da derrubada da MP. O governo ainda não decidiu se a proposta será encaminhada em um projeto de lei ou em outro instrumento.