“Vamos supor que Trump queira anistia. É muito?”. A pergunta de Jair Bolsonaro em entrevista coletiva nesta quinta-feira, 17, na entrada do Senado, dá a dimensão da crise em que mergulhou o bolsonarismo nos últimos dias. O processo do STF que deve condená-lo por tentativa de golpe entrou na reta final e está difícil de se desvencilhar do imenso desgaste político causado pelo tarifaço de Donald Trump.
De volta à pergunta de Bolsonaro: É muito? É muito. Esta foi a resposta dos brasileiros na pesquisa Genial/Quaest divulgada há dois dias, em que 72% repudiaram o tarifaço e 57% afirmaram que Trump sequer deveria se meter nas questões do país.
Com a medida, seguida pela abertura de uma insólita investigação comercial que mira do Pix à Rua 25 de Março, o presidente americano se tornou algoz do bolsonarismo. E o que se segue é um Jair Bolsonaro descompensado, que já voltou a gritar e xingar na TV, como na terça-feira na CNN.
Em 40 minutos da entrevista no cercadinho do Congresso, um errático Bolsonaro falou e desfalou que é o pivô da crise disparada pelo americano. Quis dizer que a tarifa é por ele, mas não é culpa dele. Difícil de entender. Em sua narrativa, o ex-presidente tentou jogar a culpa em Lula e desqualificou o chanceler Mauro Vieira, dizendo que nem sabia o nome dele.
Bolsonaro ainda buscou se colocar como mediador da encrenca, oferecendo-se convenientemente para negociar com Trump. No coração do bolsonarismo, no entanto, seus próprios aliados criticam o trem descarrilado que se tornou Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos. Politicamente desastrado e imaturo, o deputado licenciado já deixou claro pouco se importar com os reflexos econômicos do tarifaço e encorajou o empresariado a deixar o Brasil.
Além da posição dos brasileiros contra Trump, a Quaest mostrou que os primeiros reflexos eleitorais da crise do tarifaço indicam um cenário favorável a Lula.
O presidente vence sem dificuldades Jair, Eduardo e Michelle Bolsonaro. O adversário mais competitivo do petista, com quem ele empata tecnicamente, é Tarcísio de Freitas — que vinha sendo torpedeado por Eduardo Bolsonaro em razão de suas preocupações com o impacto da tarifa de Trump na economia paulista.
Enquanto isso, os petistas, animados com as novas pesquisas, apertam o cerco e cobram medidas do STF e do Congresso contra o deputado licenciado e sua família.