Além de interromper a alta de juros, o Banco Central confirmou as expectativas do mercado financeiro de que a taxa Selic, referência para o Brasil, deverá permanecer no atual patamar de 15% ao ano por um tempo maior. O comunicado divulgado logo após a reunião desta quarta-feira, 30, destaca que a inflação só deverá convergir para perto da meta de 3% no primeiro trimestre de 2027 e que, diante do elevado grau de incertezas no cenário doméstico e internacional, os diretores que integram o Copom (Comitê de Política Monetária) deverão manter a taxa atual para “examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado, ainda por serem observados”.

Em quase um ano, foram sete altas realizadas pelos Banco Central, levando a Selic para o maior nível em 20 anos. A decisão do BC ficou em linha com a do banco central dos Estados Unidos, o Fed, que também manteve os juros inalterados pela quinta vez consecutiva, contrariando o desejo do presidente Donald Trump que ameaça demitir do presidente da instituição desde que assumiu o cargo, no início deste ano.

Tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos a preocupação com a inflação é um incômodo. Mas juros altos para conter alta de preços também não ajudam no discurso político dos dois governos. A crise desencadeada pela política protecionista do presidente americano acaba reforçando o perfil conservador dos dois BCs. Apesar de Trump ter recuado e livrado da taxação de 50% uma extensa lista de produtos brasileiros vendidos para os Estados Unidos, o mercado acredita que a taxação terá alguma repercussão na inflação americana. A incerteza em relação ao impacto da medida no Brasil também gera repercussão negativa para os preços.

O Copom citou no comunicado desta quarta-feira, 30, a preocupação com o ambiente externo mais adverso e incerto em função da política econômica nos EUA, principalmente a política comercial e fiscal e seus efeitos. O cenário exige “cautela por parte dos emergentes, ainda mais com ambiente marcado por tensão geopolítica”, afirmou o comunicado.

A atividade doméstica no Brasil tem respondido ao aperto monetária já efetuado. No entanto, para os diretores, o mercado de trabalho ainda está aquecido e o BC continua com dificuldade para fazer as expectativas futuras de inflação convergirem para a meta, o que acaba pressionando os preços no momento atual. Para 2025, as expectativas do mercado financeiro são de que o IPCA, índice oficial, fique em 5,1% e, em 2026, 4,4%.