Mais uma vez, a equipe econômica não enxergou o efeito explosivo junto ao mercado e, potencialmente, uma crise mais ampla de comunicação em toda a sociedade, decorrente do aumento do IOF. E isso tem tudo a ver com a série de eventos que aconteceram em Nova York, na semana de 12 a 16 de maio, com investidores brasileiros e americanos e autoridades dos Três Poderes: a Brazil Week.

O governo praticamente abandonou a agenda de Nova York, onde, do primeiro escalão, só estava Renan Filho — o ministro participou de alguns encontros, entre eles o almoço que nós, aqui no PlatôBR, organizamos com o Nobel de Economia Paul Krugman, empresários, governadores e o presidente do BID, Ilan Goldfajn.

Da equipe econômica, estava apenas Dario Durigan, o número dois de Fernando Haddad.

Em parte, o abandono se deu porque boa parte do ministério estava com Lula na China, o que poderia levar alguns a alegar que isso foi algo calculado pela política externa brasileira, numa espécie de recado aos americanos. Não foi isso — e seria pueril se tivesse sido.

O governo jogou a toalha na necessidade de pregar para não convertidos. Renan Filho e Durigan defenderam o governo sozinhos a cada crítica. Não havia uma estratégia de comunicação para falar com o mercado na semana mais estratégica do ano de interação entre Faria Lima e o poder público.

A falta de olho no olho com o mercado faz falta à equipe econômica e ao governo como um todo. E essa lógica vale para diversos outros segmentos sociais distantes do governo, com quem Lula e seus ministros também não parecem querer falar: os evangélicos conservadores, o agronegócio, a parte da classe média que se preocupa com o combate à corrupção.

Restam os esforços isolados, aqui e ali, de um ministro ou outro — Renan Filho, Jorge Messias, Wellington Dias, Carlos Fávaro e outros do Centrão, como André Fufuca e Silvio Costa Filho.

Falar com quem pensa diferente de você dá trabalho. Lula soube fazer isso em seus dois primeiros governos. Neste, não parece ter paciência — ou não enxerga a urgência disso.

O ônus disso virá em 2026. Talvez não signifique a derrota de Lula ou do candidato da esquerda. Mas torna uma vitória muito, muito mais difícil.