A péssima repercussão da “PEC da blindagem” na sociedade provocou um fenômeno raro no Congresso: arrependimento público. Parlamentares que votaram a favor da proposta que protege políticos contra processos judiciais mudaram de posição e se manifestaram nas redes sociais. Pelo menos seis deputados disseram ter errado ao apoiar o texto. Os parlamentares que buscaram se desculpar com eleitores e seus pares são os seguintes: Pedro Campos (PSB-PE), Silvye Alves (União-GO), Thiago de Joaldo (PP-SE), Merlong Solano (PT-PI), Airton Faleiro (PT-PA) e Kiko Celeguim (PT-SP).

Alvo de críticas de especialistas, juristas e movimentos sociais, a PEC propõe mudanças que ampliam a proteção de parlamentares contra punições disciplinares, processos judiciais e investigações. A medida gerou debates acalorados sobre os limites do poder dos congressistas, o equilíbrio entre imunidade e responsabilidade e a transparência nas decisões políticas.

No domingo, 21, manifestações nas capitais e grandes cidades brasileiras levaram milhares de pessoas às ruas contra a “PEC da blindagem” e, também, contra a proposta de anistia aos condenados por tentativa de golpe de Estado. Os protestos expuseram a indignação popular diante das medidas que visam proteger os parlamentares.

O deputados que se retrataram recorreram às redes sociais para pedir desculpas e reconhecer o erro no voto.

Leia o que cada deputado declarou:
-Pedro Campos: publicou um vídeo dizendo que não escolheu o “melhor caminho”. “A PEC passou do jeito que nós não queríamos, inclusive com a manobra para voltar o voto secreto que nós já tínhamos derrubado em votação”, afirmou. O deputado pernambucano também disse que entrou com um mandado de segurança no STF contra a votação.

-Silvye Alves: classificou seu voto como “erro gravíssimo”. Disse que recebeu ameaça de retaliação caso votasse contrariamente. “Comecei a receber muitas ligações de pessoas influentes do Congresso, se é que vocês me entendem. Ligaram dizendo que (…) eu sofreria retaliações. Eu fui covarde e cedi à pressão”. Depois de rever a posição, ela decidiu se desfiliar do União Brasil.

-Thiago de Joaldo: diz que falhou e que irá trabalhar para corrigir o equívoco. “Me somar a outros colegas que também escutaram as vozes das ruas para derrubar a PEC no Senado”, declarou.

-Merlong Solano: pediu desculpas ao Piauí e ao PT. Disse que o voto foi na tentativa de preservar o diálogo entre o seu partido e a presidência da Câmara. “Na política, por vezes somos levados a fazer escolhas difíceis, que exigem renúncias e sacrifícios”.

-Airton Faleiro: declarou que espera que o equívoco do voto seja compreendido como erro isolado em sua vida política. Ele finalizou a postagem dizendo: “Não à PEC da blindagem”.

-Kiko Celeguim: ele é presidente estadual do PT de São Paulo e afirma que um acordo para não aprovar a anistia foi construído e, por isso, seu voto foi a favor da blindagem. Ele diz que o acordo não foi cumprido. “Foi um erro confiarmos nesses líderes que, desde 2016, têm mostrado um DNA golpista (…) Aprendi uma dura lição e não esquecerei dela”.