A situação vivida pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), guarda semelhança, em certa medida, com o que se passou com Roberto Freire na campanha presidencial de 1989. Freire era candidato do PCB (Partido Comunista Brasileiro) ao Planalto e disputava votos em uma faixa onde concorriam Lula (PT), Leonel Brizola (PDT) e Mário Covas (PSDB).
O PCB tinha ligações históricas com a União Soviética, iniciadas na década de 1920. Durante a ditadura, a URSS acolheu dezenas de exilados do partido e também ajudou a financiar a estrutura clandestina dos comunistas no Brasil. Sem negar as raízes, a campanha de Freire apostou na renovação do comunismo, embalada pelas reformas que ocorriam na União Soviética durante o governo de Mikhail Gorbatchev. O candidato defendia reforma agrária e “propriedade social” dos meios de produção.
Apesar do anticomunismo largamente difundido no país, Freire fazia uma campanha elogiada pela imprensa e com a simpatia de uma parte do eleitorado. Tudo ia bem até que o Muro de Berlim foi derrubado por manifestantes na noite de 9 para 10 de novembro, cinco dias antes da eleição no Brasil.
Fato determinante para o fim da Guerra Fria, a queda do muro tirou o chão de Freire. O mundo comunista entrou em declínio e o candidato perdeu o discurso na reta final da campanha. Abertas as urnas, o postulante do PCB teve 1,1% dos votos e ficou em oitavo lugar.
Algo parecido se passa com Tarcísio. Nome preferido do empresariado brasileiro para o Planalto em 2026, o governador perdeu o eixo com o tarifaço de Donald Trump, defendido por seu padrinho político, o ex-presidente Jair Bolsonaro.
A dificuldade em se posicionar sobre a taxação deixou Tarcísio em situação difícil com os exportadores brasileiros prejudicados pelas medidas de Trump. Ele terá de lidar com esse desgaste caso decida mesmo se candidatar ao Planalto.
Assim como aconteceu com Freire em 1989, um fato externo de grande relevância atrapalha os planos de Tarcísio.