O ex-presidente da República Jair Bolsonaro deseja, há pelo menos um ano, que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, deixe o Republicanos e ingresse em seu partido, o PL. Por enquanto, o chefe do executivo paulista não atendeu aos pedidos de seu líder.

Tarcísio se filiou ao partido em 2022 para se candidatar ao Palácio Bandeirantes, apadrinhado por Bolsonaro. Na cúpula do Republicanos, o discurso é de confiança na palavra do governador, manifestada em entrevistas e em conversas, de que não tem interesse em concorrer por outra legenda à reeleição ou ao Palácio do Planalto em 2026.

Como as pressões do PL continuam, o atual partido de Tarcísio se prepara para a eventualidade de sua saída. Nessa hipótese, no momento, duas alternativas são estudadas. Uma possibilidade é uma postura de neutralidade, sem apoiar candidato a presidente, pelo menos formalmente. Outro caminho seria aliar-se ao campo governista, comandado por Lula.

Se as conversas evoluírem nessa direção, o Republicanos pode pleitear a vice de Lula, se o petista concorrer à reeleição, ou de outro de outro candidato governista. Nesse caso, o partido tem dois nomes: o deputado federal Marcos Pereira (SP), presidente da legenda, e o ministro Sílvio Costa Filho (Portos e Aeroportos), próximo ao presidente. Outro fator contribui para uma aposta no ministro: ele é filho do ex-deputado Sílvio Costa, amigo de Lula e um dos principais defensores da ex-presidente Dilma Rousseff durante o processo que culminou em seu impeachment em 2016.

Sílvio Filho é um nome em ascensão na política, mas Marcos Pereira é apontado como um nome com maior potencial eleitoral por ser evangélico e bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, liderada pelo também bispo Edir Macedo. O governo Lula e o PT tentam se aproximar dos evangélicos, segmento que, em larga maioria, vota em candidatos do campo da direita.

Líderes do Republicanos afirmam não se preocupar com as conversas sobre a possível saída de Tarcísio, pois essa não é sua vontade. Por essa avaliação apenas um grupo de bolsonaristas teria interesse na mudança. A relação do governador é boa com o partido, embora alguns integrantes da legenda reclamem de  pouca participação e representatividade no governo paulista.

Políticos do Republicanos ressaltam, porém, que o governador precisa decidir se quer continuar em um partido que o respeita, que tem “um ambiente tranquilo” e não o pressiona “para ele assumir discursos com os quais não concorda”, ou se quer conviver com uma outra legenda, o PL, que abriga grupos mais radicais e extremistas, com muita pressão e cobrança sobre a atuação política.

Em pelo menos um ponto, a atual cúpula do Republicanos se distancia de Bolsonaro: a proposta de anistia dos responsáveis pela tentativa de golpe de Estado na última transição presidencial. Nesse caso, o partido tem se posicionado ao lado de petistas e governistas. Marcos Pereira declarou ser contrário ao projeto. O presidente da Câmara, Hugo Motta (PB), também do partido, não considera essa pauta uma prioridade nesse momento e tem resistido às pressões para colocá-lo em votação.