O recuo do governo dos Estados Unidos quanto ao tarifaço imposto ao Brasil não é apenas uma correção de rumo comercial. É um sinal, diante do mundo, de que o Brasil voltou a se fazer respeitar. Voltamos a ter política externa, governo com autoridade e diplomacia com projeto, e isso fez toda diferença.

Desde o início, denunciei que o tarifaço não se tratava de um debate legítimo sobre comércio, mas de uma tentativa de pressionar o Brasil politicamente. Um país soberano, que retoma seu desenvolvimento, sua reindustrialização, sua política externa ativa e altiva, sempre incomodará interesses externos. O que estava em disputa era nosso direito de decidir nosso futuro sem tutela.

Aqueles que imaginavam nos colocar de joelhos se surpreenderam com a resistência: o governo brasileiro agiu com inteligência estratégica, articulando-se com parceiros internacionais, apresentando dados, pressionando em fóruns multilaterais e, principalmente, demonstrando que o Brasil não aceita ser punido por priorizar sua soberania e seu povo.

O resultado está aí: os EUA começam a voltar atrás. Não porque de repente se tornaram benevolentes, mas porque o Brasil demonstrou força econômica, respaldo político internacional e unidade interna na defesa dos setores produtivos e dos trabalhadores. Isso ensina ao mundo que bloqueios e chantagens econômicas já não funcionam com o Brasil.

O tarifaço atacava diretamente o que temos de mais estratégico: nossa capacidade de produzir riqueza real e distribuir trabalho e renda. Atingia o agronegócio, a indústria e cadeias logísticas com milhões de empregos envolvidos. Se aceitássemos calados, abriríamos precedente perigoso: cada vez que o Brasil decidisse fortalecer sua autonomia, estaríamos sujeitos à retaliação de quem historicamente viu nossa economia como área de influência.

Mas desta vez foi diferente. Voltamos a ser protagonistas internacionais. Voltamos a dizer “não”.

Essa conquista também deixa uma tarefa interna: fortalecer nossa reindustrialização e avançar rumo a um novo projeto nacional de desenvolvimento. Não podemos depender de mercados que usam seu poder econômico como arma política. Precisamos diversificar parceiros, agregar valor à produção, investir em inovação, ciência e tecnologia.

O Sul Global está em movimento. Países antes subordinados querem assento igualitário à mesa. A multipolaridade não é conceito acadêmico: ela se expressa em fatos como este. Os EUA precisaram recuar porque já não somos o país vulnerável que aceitará qualquer imposição. Somos parte ativa de um mundo que se reorganiza, e onde o Brasil volta a ter papel decisivo.

O recuo não é o fim da disputa. É o início de uma nova etapa. Devemos transformar essa vitória diplomática em mudanças estruturais: mais desenvolvimento, mais soberania tecnológica e industrial. Sem isso, sempre haverá espaço para tentativas de nos empurrar para a condição de exportadores de produtos primários e dependentes de decisões externas.

Celebrar, sim. Acomodar-se, jamais.

Com Lula, o Brasil voltou a ocupar seu lugar no mundo. Voltamos a defender nossos interesses com firmeza e a construir alianças que respeitem nosso projeto nacional. Essa vitória demonstra que quem governa olhando para os interesses nacionais é capaz de derrotar os que desejavam nos ver enfraquecidos.

Hoje o mundo entende mais uma vez que o Brasil existe – soberano e altivo.

José Dirceu é um político brasileiro, advogado, consultor e militante de esquerda com uma longa trajetória no cenário político do país. Autor de três livros – Abaixo a Ditadura (1998), Tempos de Planície (2011) e Zé Dirceu – Memórias volume 1. Iniciou sua militância política durante os anos de ditadura militar no Brasil, engajando-se no movimento estudantil, do qual foi líder entre 1965 e 1968. Foi deputado estadual por São Paulo, exerceu três mandatos de deputado federal, e ministro-chefe da Casa Civil durante o primeiro Governo Lula, em 2003. Foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores, seu secretário-geral e presidente por quatro mandatos