Os desdobramentos econômicos da crise política iniciada pelo tarifaço imposto presidente Donald Trump a produtos do Brasil vão, aos poucos, se transformando num reforço à estratégia do governo brasileiro para tentar reverter a medida. Enquanto industriais discutiam alternativas com ministros e técnicos de seis ministérios, em Brasília, uma nota conjunta de entidades representativas de empresas americanas que vendem, compram e investem no Brasil reforçou o coro contra a decisão do governo dos Estados Unidos.

Com o peso de 6.500 pequenos empresários norte-americanos que dependem de produtos importados do Brasil, e também de 3.900 empresas que investem no país, a Câmara dos EUA e a AmCham Brasil (Câmara Americana de Comércio no Brasil) fazem apelo por “negociações de alto nível para evitar implementação de tarifas prejudiciais”. A carta, divulgada na manhã desta terça-feira, 15, destaca ainda que “impor tais medidas em resposta a tensões políticas mais amplas corre o risco de causar danos reais a um dos relacionamentos econômicos mais importantes dos Estados Unidos e estabelece um precedente preocupante”.

Ao tarifar as vendas brasileiras para os EUA, Trump afeta “produtos essenciais para as cadeias de suprimentos e consumidores dos EUA, elevando os custos para as famílias e reduzindo a competitividade de setores-chave da indústria americana”, afirmam as duas entidades.

Os dados da inflação nos EUA começam a refletir a política protecionista do presidente Trump anunciada desde fevereiro. A inflação ao consumidor acumulada no período de 12 meses terminado em junho subiu para 2,7%. “Olhando para a frente, com crescimento da economia ainda forte, mercado de trabalho apertado, dólar fraco e as tarifas, o cenário preocupa”, diz um analista de um grande banco norte-americano. A inflação é um problema para Trump, em especial, para a população de menor renda que ele quer agradar.

O impacto da taxação sobre o Brasil contribui para agravar esse quadro. Além disso, se soma ao fato de que os americanos vendem mais produtos e serviços para o Brasil do que compram, reforçando a tese de que a tarifação não tem base técnica e de que trata-se do uso de questões políticas e internas do Brasil para tentar tirar vantagens nas negociações.

Além da regulamentação do mercado para as chamadas big techs, que afeta empresas americanas como Google, FaceBook (Meta), Amazon e Apple que operam no Brasil, Trump tem interesse em abrir o mercado brasileiro para a indústria de etanol americana, que compôs a base de sustentação da sua campanha eleitoral para chegar a presidente dos EUA.