O sim, o não e o talvez
"O governo fez" não é a mesma coisa que "o governo está fazendo". "A vida vai melhorar" é promessa. "A vida está melhor" (ou "a vida já melhorou") é afirmação.
O presidente Lula reclama que a comunicação do governo erra e não consegue fazer chegar ao povo tudo de bom que o governo dele fez em dois anos.
E o ministro Fernando Haddad, responsável pela política econômica do governo, que tem repercussão direta e imediata no bolso e no estômago de cada brasileira, de cada brasileiro, faz coro com o chefe. Temos um problema grave de comunicação, repete Haddad em quase todas as entrevistas.
Nestes tempos, quando ninguém consegue meter uma cunha nessa maniqueísta polarização que aflige a todos desde, pelo menos, 2018, a função de se comunicar fica cada dia mais difícil. As redes sociais, hoje as principais – embora pouco confiáveis – fontes de informação para os cidadãos comuns, exigem sim, ou não.
A oposição oferece o não. "O governo não faz", "o governo não garante liberdade de expressão", "o governo não faz a vida melhorar", gritam os oposicionistas e, principalmente, o pessoal da desinformação, das fake news.
E o governo tem usado mais o "talvez", a promessa , do que o sim, ou não. E "talvez", como disse o angolano Pepetela, soa nos ouvidos de acordo com a expectativa de cada um. "Talvez" é sim para quem queria ouvir não e é não para quem queria ouvir sim.
Lembre o comercial veiculado nas redes de TV no fim do ano passado para mostrar os feitos do governo federal. O vídeo – muito bem produzido, diga-se – enaltecia o crescimento do PIB, o recorde na geração de empregos, afirmava que a inflação está controlada e que foram abertos novos mercados internacionais para produtos brasileiros.
Mas o comercial admite que isso não é o mais importante e faz uma promessa. Aqui, repito exatamente o que diz o locutor do anúncio governamental:
– O mais importante é você e não vamos parar enquanto isso não chegar até você, a sua família e à de todos os brasileiros...
A frase final do vídeo é “a vida vai melhorar”! Uma promessa, não é mesmo? É o governo respondendo com uma promessa a todas as críticas, algumas aceitáveis, outras infundadas, da oposição, que tem nadado de braçada nas redes sociais, enquanto o governo flutua sobre promessas e índices que não dizem nada à cidadã, ao cidadão comum que vai à feira, toma o ônibus, ainda está na fila do desemprego e para quem “controle da inflação”, “aumento do PIB”, “abertura de novos mercados internacionais” é grego...
Aí está o desafio no colo do marqueteiro Sidônio Palmeira: substituir as promessas – que podem funcionar na campanha eleitoral – por realizações efetivas.
Divulgar o a Minha Casa Minha Vida não como inspirador de sonho, mas como ferramenta de conquista do sonho. Mostrar que o aumento do PIB já fez a vida melhorar, em lugar de prometer que a vida vai melhorar.
"A vida vai melhorar" é como talvez. Pode, sim, melhorar. E pode não melhorar.
Fernando Guedes é jornalista e sócio da SHIS Comunicação, analista político, especializado em marketing político, administração de crise, análise de cenários, construção de imagem e produção de conteúdo. Trabalhou nos principais veículos de comunicação do país e assessorou ministros de Estado. Foi diretor da TV Câmara e da TV Justiça e secretário de Imprensa da Presidência da República
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