Lá se vão sete meses de autoexílio de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos, sem qualquer sinal de que ele pretende renunciar ao mandato na Câmara ou retornar ao Brasil para exercê-lo. Eduardo finge que exerce seus deveres do exterior e ainda se diz candidato à Presidência em 2026. Enquanto as faltas do deputado se acumulam na Casa e o aproximam da perda da cadeira, o presidente da Câmara, Hugo Motta, teve de voltar ao óbvio nessa segunda-feira: não existe mandato exercido a partir de outro país.
“É impossível exercer o mandato estando em outro país. O regimento veda isso e iremos cumpri-lo. É assim que seguirá”, disse Motta aos repórteres Beatriz Roscoe e Murillo Camarotto.
Embora seja insólito que o presidente da Câmara tenha de se repetir em algo tão trivial quanto a obrigatoriedade da presença de um deputado no país onde foi eleito, as palavras de Motta sobre Eduardo são necessárias diante do comportamento singular do filho de Jair Bolsonaro. Talvez pela proximidade que imagina ter com o governo Donald Trump e pelo desprezo que nutre pelas instituições brasileiras, Eduardo Bolsonaro deseja ser tratado como um cidadão acima das leis.
Para Eduardo, pouco importam os 741,7 mil votos de eleitores de São Paulo que o elegeram para seu terceiro mandato. Não é em nome deles, muito pelo contrário, que o deputado estimulou sanções contra o Brasil — e, por tabela, contra a economia paulista, a maior do país. Os eleitores de Eduardo são usados por ele para fins políticos pessoais e familiares.
Exemplo disso foi a postura do deputado quando da votação da urgência do projeto da anistia, que ele pretende ampla e irrestrita para livrar o pai da cadeia. Dizendo não ter conseguido acessar o sistema digital da Câmara na votação, Eduardo fez questão de registrar junto à Casa seu voto favorável à urgência. A anistia, afinal, é o principal mote de sua cruzada nos EUA.
O deputado não fez o mesmo, por exemplo, em um projeto de inegável interesse da população: a isenção do imposto de renda a salários de até R$ 5 mil, aprovada por unanimidade na Câmara, em um raríssimo caso de confluência entre oposição e governo. Até agora, nada de declaração de voto de Eduardo sobre o assunto. Ele nem ao menos fingiu se importar, assinando um documento semelhante ao que firmou no caso da urgência da anistia.
Enquanto isso, o gabinete de Eduardo Bolsonaro na Câmara segue torrando dinheiro público. Todo mês, em média, são gastos ali R$ 132 mil. Até agosto, de acordo com dados do portal da Câmara, o mandato de Eduardo Bolsonaro havia custado R$ 1 milhão em verbas — fora os R$ 24,5 milhões em emendas empenhadas.
O deputado continua com nove assessores na ativa. Destes, seis ganham R$ 18,7 mil e um recebe R$ 23,7 mil. Questionada pela coluna no fim de agosto, a equipe não quis dizer quais haviam sido as “necessidades” de Eduardo nos cinco meses anteriores. Tampouco quis comprovar que o trabalho, pago com dinheiro público, vem sendo feito.
Eduardo Bolsonaro já acumulou 30 faltas não justificadas em sessões deliberativas em 2025, 66% do total. Para que um deputado perca o mandato por abandono, é necessário faltar a um terço, ou 33%, das sessões do plenário da Câmara. Eduardo Bolsonaro também é alvo de um processo no Conselho de Ética da Câmara por quebra de decoro parlamentar.