Decano do STF e uma das vozes mais influentes da República há mais de duas décadas, Gilmar Mendes entende que a Corte mais acertou do que errou nos últimos anos, período em que passou a ser o alvo preferencial de extremistas no país.
Em entrevista à coluna, Gilmar lembrou decisões do Supremo que permitiram salvar vidas na pandemia em meio ao negacionismo do governo Jair Bolsonaro e avançar em questões humanitárias. Para o decano, o STF acaba sendo alvo de insatisfações com o Judiciário como um todo, a exemplo de penduricalhos salariais e privilégios, por ser sua instância mais poderosa e seus 11 ministros, seus rostos mais conhecidos. “Talvez os nossos apoiadores sejam silenciosos e os nossos críticos e adversários sejam bastante vocais. Há também um desafio de comunicação”, comparou.
Na longa conversa, Gilmar respaldou pontos polêmicos da atuação de um dos ministros mais atacados do Supremo, Alexandre de Moraes, o responsável pelas investigações que atingem em cheio Bolsonaro e bolsonaristas proeminentes. Moraes, ele avaliou, não é o mais poderoso dos integrantes da Corte.
Gilmar rebateu ainda as críticas diretas que sofre por organizar anualmente, em Portugal, o Fórum de Lisboa, reunião de políticos, ministros, advogados e empresários para discutir temas do país. O evento tem o IDP, faculdade de que ele é sócio, entre os organizadores, e, tal qual outros do gênero, é criticado por supostamente servir de espaço para lobbies e acessos indevidos de empresários a figuras proeminentes da República. O ministro disse ser ingênuo achar que pessoas públicas precisam sair do país para se encontrarem em eventos privados.
Passada a tormenta institucional do governo Bolsonaro, Gilmar entende que os dois primeiros anos de Lula no Palácio do Planalto “restabeleceram a civilidade e normalizaram as relações entre Poderes no país”. Ele classificou a conduta institucional do governo do petista como “exemplar” e elogiou o que chamou de “atitude extremamente cuidadosa” do presidente em conduzir o pós-8 de Janeiro.
Depois de liderar o movimento que anulou as condenações que levaram Lula à prisão e barraram seus direitos políticos, o ministro agora vê a reeleição do petista como uma possibilidade concreta, pela boa saúde de que, na sua visão, o presidente goza. Gilmar e Lula se reaproximaram nos últimos anos. Na única cobrança que fez ao governo, Gilmar Mendes ponderou que o país precisa de mecanismos mais sólidos para evitar que militares participem da vida política e sobre como despolitizar a polícia.
A coluna ouviu também as opiniões de Gilmar sobre segurança pública. Para ele, um defensor da PEC da Segurança, a autonomia pura dos estados para lidar com segurança é ineficaz no combate ao crime organizado e é essencial a integração entre governo federal, estados e municípios.