O semblante carregado dos ministros escalados para a entrevista coletiva na quinta-feira, 6, traduziu de alguma maneira a gravidade do momento para o governo. Os ministros Rui Costa (Casa Civil), Carlos Fávaro (Agricultura) e Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) acompanharam, com evidente ar de preocupação, o anúncio feito pelo vice-presidente Geraldo Alckmin das medidas implementadas esta semana para tentar controlar a inflação de alimentos. Nas circunstâncias atuais, o anúncio provoca certa tensão na equipe de Lula.
O aumento contínuo dos preços nos últimos meses, perceptível nos supermercados e no humor dos consumidores, tornou-se um drama para o Planalto, com desdobramentos na política e nas projeções para o cenário eleitoral de 2026. Guardadas as devidas proporções, pode-se dizer que o velho fantasma da inflação voltou a atormentar os brasileiros e os governantes.
Embora os índices oficiais estejam longe dos momentos mais críticos nas décadas de 1980 e 1990, a percepção de carestia, mesmo com aumento da renda familiar, impacta diretamente na crescente impopularidade do presidente. Para adaptar uma expressão da época, é como se um “dragãozinho” devorasse pedaços cada vez maiores dos salários da população.
Segundo os dados oficiais, nos últimos 12 meses, a inflação ficou próxima a 5%. Para se fazer uma comparação, em junho de 2008, quando Lula lançou a primeira versão do programa Mais Alimentos, a inflação de igual período estava em torno de 6%, próxima ao patamar atual. Na época, o mundo enfrentava uma crise alimentar e, como reação, o governo investiu na produção familiar, com ampla oferta de maquinário para pequenos agricultores.
Agora, as medidas anunciadas focam nos cortes de tarifas de importação. Pelo que foi dito na entrevista, outras iniciativas com o mesmo objetivo virão pela frente. Nesse caso, a postura do governo difere de outra tentativa de baixar os preços, o Plano Collor, em 1992. Na ocasião, o então presidente Fernando Collor bradou que acabaria com a inflação, que passava de 6.000% ao ano, “com um tiro só”. Como se sabe, não deu certo.
Alckmin ficou à frente dos dois assuntos mais importantes da semana
Chamou a atenção em Brasília, na tarde de quinta-feira, o fato de Geraldo Alckmin ter comandado as duas agendas mais importantes para o governo na semana. Também ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, o vice-presidente assumiu a frente do anúncio do pacote anti-inflacionário.
Um pouco antes, no meio da tarde, Alckmin havia participado de uma videoconferência com dois representantes do governo dos Estados Unidos: o secretário de Comércio, Howark Lutnick, e o representante comercial, Jamieson Greer. Foi a primeira conversa entre os dois governos desde que o presidente Donald Trump anunciou a intenção de aumentar as taxações sobre produtos brasileiros.
As medidas divulgadas por Trump desde que retornou à Casa Branca impactam o comércio mundial. Com idas e vindas, o presidente dos Estados Unidos divulga medidas que afetam o comércio com seus principais parceiros, como China, Canadá e México. O republicano também declarou a intenção de aumentar as taxações de produtos do Brasil.
No encontro virtual, Alckmin lembrou que os americanos têm superávit de US$ 200 milhões na balança comercial entre os dois países, próxima a US$ 80 bilhões. Foi apenas o primeiro passo, outros virão, certamente conduzidos pelo vice-presidente.
Movimentos de Trump aumentam tensão na Europa com a guerra na Ucrânia
Além de provocar incertezas no comércio mundial, Donald Trump também provoca instabilidade na Europa com a decisão de retirar apoio para a Ucrânia na guerra contra a Rússia. Em consequência da postura do presidente dos Estados Unidos, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, declarou que o continente precisa se armar para se defender da Rússia.
Durante a semana, a tensão no Hemisfério Norte teve uma escalada com uma troca de acusações entre os presidentes da França, Emmanuel Macron, e da Rússia, Vladimir Putin. Na quinta-feira, Putin insinuou que Macron agia como Napoleão Bonaparte ao defender medidas de proteção da Europa contra a Rússia. Em resposta, Macron disse que a guerra na Ucrânia se tornou um “conflito global” e considerou a hipótese de colocar outros países da Europa sob a proteção nuclear francesa. Nunca, desde o fim da Guerra Fria, o mundo viveu um momento de tanta apreensão sobre a corrida bélica.
Com o fim do prazo de defesa, acusados se preparam para os processos
Terminou na quinta-feira o prazo para a entrega das defesas dos acusados de tentativa de golpe na sucessão de Jair Bolsonaro. Nos documentos entregues ao STF, os advogados questionam as acusações, solicitam o impedimento de ministros, e pedem que o caso seja julgado no plenário e, não, na Primeira Turma.
Qualquer que seja o colegiado, as chances de aceitação das denúncias são maiores do que de rejeição. Assim, resta agora aos acusados se preparar para enfrentar os processos no Supremo. Pelo calendário previsto, o julgamento dos 34 denunciados deve acontecer ainda este ano.