A solução do governo Luiz Inácio Lula da Silva para a grave crise financeira dos Correios foi buscar um sindicato de bancos para emprestar R$ 20 bilhões para a estatal. A condição determinante para o empréstimo imposta pelas instituições financeiras foi que o Tesouro Nacional entrasse como fiador da operação. Na prática, se a empresa pública não pagar as parcelas caberá aos brasileiros, por meio dos impostos pagos, cobrir o calote.

Banco do Brasil, BTG Pactual, Citibank, ABC Brasil e Safra participam da operação. As condições do empréstimo que será oferecido, entretanto, ainda não foram detalhadas pelos Correios. Com isso, os bancos reduziram o risco de prejuízo a quase zero. A única informação disponível é que a operação foi aprovada pelo conselho de administração da empresa e que será necessária a publicação de um decreto presidencial e de uma portaria para que a garantia do Tesouro seja oferecida, com a assinatura de Lula. 

A rubrica de Lula foi uma condição imposta por servidores do Tesouro Nacional que temem ser responsabilizados caso haja questionamentos judiciais futuros em caso de prejuízo. O “apagão das canetas” foi determinante para que o presidente da República fosse levado a participar diretamente da operação de socorro. 

Além do empréstimo de R$ 20 bilhões, o plano de socorro elaborado pelo presidente da estatal, Emmanoel Schmidt Rondon, prevê um plano de demissão voluntária para os empregados, mudanças no plano de saúde que é bancado pela estatal, e a venda de imóveis — com potencial estimado pela companhia para arrecadar R$ 1,5 bilhão.

Essa proposta foi divulga em nota à imprensa em 21 de novembro, sem detalhes sobre cada ação, e ainda considera a otimização da rede de atendimento, com redução de até mil agências deficitárias, expansão do portfólio para e-commerce e ações de modernização do modelo operacional e da infraestrutura tecnológica. O sucesso dessas medidas, no entanto, não é garantido. A empresa ainda informou que espera reduzir o prejuízo em 2026 e voltar a dar lucro em 2027. 

Rombos sucessivos 
Os Correios acumulam prejuízos em série durante a terceiro mandato de Lula. Em 2023, o rombo foi de R$ 633,5 milhões. No ano seguinte, resultado negativo cresceu 4,1 vezes e totalizou R$ 2,6 bilhões. Somente de janeiro a setembro deste ano, o valor quase triplicou, chegou a R$ 6,1 bilhões e pode alcançar R$ 10 bilhões até o fim de dezembro. 

Estimativas apresentadas pela diretoria da estatal apontam que a situação pode piorar ainda mais caso nada seja feito. Para 2026, a estimativa de rombo é de rombo de R$ 20 bilhões, diante das previsões contratuais que determinam o pagamento de multas em caso de atraso nos compromissos firmados. 

A empresa alega que os sucessivos prejuízos decorrem de aumento de gastos com pessoal diante dos reajustes salariais concedidos nos últimos anos. Soma-se a isso, segundo a estatal, o aumento das despesas com plano de saúde, a perda de receitas após a tributação de compras internacionais de até US$ 50, despesas com precatórios e o custo de agências deficitárias. 

Tamanho é o prejuízo dos Correios que o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, admitiu que a empresa tem “problemas graves e estruturais” durante entrevista coletiva em 24 de novembro. Segundo ele, os prejuízos da estatal já afetam as contas públicas e esse impacto pode ser ainda maior em 2026. 

“É um resultado muito ruim da empresa que a gente tem acompanhado. É o que, de fato, causa aqui um impacto negativo nesse resultado trimestral [de novembro]. Não fossem os Correios e com a receita administrada em linha, com os desbloqueios frutos da revisão de gastos, a gente poderia estar num cenário um pouco melhor”, admitiu.