O governo do Rio de Janeiro deflagrou na terça-feira, 28, a operação policial mais letal da história do estado. Mais de 120 pessoas morreram nos complexos do Alemão e da Penha, segundo os números oficiais, quatro delas policiais. As imagens de dezenas de corpos estendidos em uma rua chocaram o mundo e provocaram imediata mudança na pauta política do país.

O tema da segurança pública ganhou prioridade nas agendas de governadores e do Planalto e se tornou pauta central na polarização entre direita e esquerda, com impacto nas eleições de 2026. O combate à criminalidade também ocupou as agendas do Congresso e do Supremo Tribunal Federal.

Responsável pela operação, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, defendeu a atuação das forças de segurança, disse que as únicas vítimas foram os policiais e reclamou do governo Lula, embora não tenha formalizado um pedido de atuação conjunta.

Na quinta-feira, 30, uma comitiva de ministros esteve no Rio para acompanhar os desdobramentos da operação e discutir medidas de cooperação na área de segurança. Ricardo Lewandowski (Justiça) e Castro fizeram uma reunião e anunciaram a criação de um escritório emergencial de combate ao crime organizado, com a participação dos dois governos, para a promoção de ações integradas de segurança.

A Polícia Federal vai abrir um “inquérito macro”, disse o ministro, para investigar a atuação das facções criminosas, em atendimento a uma determinação do STF (Supremo Tribunal Federal) relacionada à letalidade policial nas favelas do Rio.

No Congresso, a disputa política foi travada, principalmente, em torno de duas propostas em tramitação na Câmara. O Planalto defende a PEC da Segurança, que prevê maior integração das forças de segurança federal e estaduais, rejeitada pelos governadores de oposição com o argumento de que interfere na autonomia dos estados. A oposição se empenha em aprovar um projeto de lei que equipara facções criminosas a organizações terroristas.

Governadores se reúnem no Rio e fortalecem pauta da oposição
Na quinta-feira, 30, cinco governadores estiveram no Rio de Janeiro para apoiar Cláudio Castro. A presença deles gerou um fato político de grande repercussão na mídia e fortaleceu o discurso da direita no combate à criminalidade.

Participaram do encontro os governadores Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás, Jorginho Mello (PL), de Santa Catarina, Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, Eduardo Riedel (PP), de Mato Grosso do Sul. Celina Leão (PP), vice-governadora do Distrito Federal também estava presente e Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, acompanhou de forma remota.

Depois da reunião, eles anunciaram a criação de um “consórcio” entre esses governos estaduais para “dividir experiências, soluções e ações de combate ao crime organizado”. Na prática, essa iniciativa funcionará como um bunker da oposição para a disputa política com o Planalto.

Lula volta da Ásia e se depara com a crise no Rio de Janeiro
O presidente Lula ainda comemorava o encontro com Donald Trump na Malásia quando o noticiário foi tomado pelas imagens de dezenas de mortos da operação deflagrada pelas forças policiais do Rio de Janeiro. De imediato, Lula fez uma reunião emergencial com ministros para decidir a estratégia do Planalto. Desse encontro, saíram as decisões que orientaram a atuação do governo federal.

Por causa da crise no Rio, Lula deixou em segundo plano outros assuntos que eram prioritários em sua agenda, como a indicação do substituto de Luís Roberto Barroso no Supremo e o pacote fiscal. Assunto principal do governo desde o fim de semana, o encontro com Trump também perdeu espaço para os desdobramentos da operação policial.

Como efeito político, a operação comandada por Castro jogou o governo federal em uma pauta incômoda, a segurança pública, no momento em que Lula crescia nas pesquisas. A menos de um ano da eleição, a oposição retoma o discurso de endurecimento contra a criminalidade, que tem forte apelo em parte da população.

Vitória do Planalto na Câmara
No meio da crise na segurança pública, o Planalto teve uma vitória importante na Câmara com a aprovação, por 286 votos a 146, do projeto de lei relatado pelo deputado Juscelino Filho (União-MA), que cria o Rearp (Regime Especial de Atualização Patrimonial). O texto incorporou medidas fiscais propostas pelo Ministério da Fazenda para garantir os recursos necessários para o orçamento de 2026. A proposta ainda depende de aprovação no Senado.

A vitória do governo só foi possível com o empenho do presidente da Câmara, Hugo Motta, que se comprometeu com o Planalto a trabalhar pela aprovação de medidas que contribuam com o equilíbrio fiscal.