O deputado Filipe Barros (PL-PR), presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, quer aprovar ainda nesta semana requerimentos com o objetivo de constranger o governo brasileiro em relação à concessão de asilo diplomático a Nadine Heredia Alarcón, ex-primeira-dama do Peru. Para isso, ele pautou para esta quarta-feira, 23, a votação de requerimentos que cobram da Casa Civil da Presidência da República informações sobre acordos firmados com a Organização de Estados Ibero-Americanos, pedem investigação do Tribunal de Contas da União sobre o uso de um avião da FAB (Força Aérea Brasileira) para trazer ao Brasil ex-primeira-dama e convoca o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, para esclarecer as circunstâncias da concessão do benefício.

Mulher do ex-presidente peruano Ollanta Humala (2011–2016), preso em Lima, Nadine Heredia é condenada pela Justiça peruana por crimes de lavagem de dinheiro e corrupção em um caso envolvendo a construtora Odebrecht. A oposição enxerga nesse caso uma oportunidade de recuperar a narrativa de que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é conivente com casos de corrupção envolvendo as empreiteiras e, com isso, tentar reavivar o clima de desconfiança em relação a Lula e ao PT que existia durante a Operação Lava Jato. 

A Comissão de Relações Exteriores é considerada a mais importante trincheira do bolsonarismo na Câmara, sob a gestão do presidente Hugo Motta (Republicanos-PB), que tem resistido a pautar outro assunto de interesse desse grupo: a anistia dos condenados por tentativa de golpe de Estado na última transição de governo. No início do ano legislativo, a ideia era que o colegiado fosse presidido pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ). O deputado, porém, se licenciou do mandado para ficar nos Estados Unidos, alegando ser vítima de perseguição política no Brasil, e deixou o aliado Filipe Barros no cargo. 

Na semana passada, o ministro Mauro Vieira defendeu o governo e explicou que o uso de avião da FAB era a única forma de trazer Nadine Heredia ao Brasil. Ele alegou que era necessário tirá-la do país com rapidez e segurança e que tudo foi feito com a concordância do governo peruano. Além disso, Vieira explicou que o asilo diplomático foi concedido com base em questões humanitárias previstas na Convenção de Caracas e também conforme está prescrito na legislação brasileira. A ex-primeira-dama se submeteu a uma cirurgia na coluna vertebral e está em recuperação. Ela também precisa completar o tratamento no Brasil, de acordo com o chanceler brasileiro.

Ela e o marido foram condenados a 15 anos de prisão por lavagem de dinheiro, acusados de receber recursos ilegais da Odebrecht e do governo venezuelano. Ambos negam as acusações.