Durante o recesso do Congresso, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), tem evitado se posicionar sobre as movimentações do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos Estados Unidos. Na volta dos trabalhos, na próxima segunda-feira, 4 de agosto, porém, ele sofrerá pressões contra e a favor de um processo de cassação do filho do presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ). A aplicação de sanções contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF, e o tarifaço de produtos brasileiros promovido por Donald Trump complicam a situação de Eduardo, empenhado nas articulações nos Estados Unidos pelas medidas contra o Brasil.
Motta chegou ao cargo por uma ampla concertação com o governo e a oposição e, inevitavelmente, vai desagradar um dos lados. O líder do PT na Câmara, deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), afirma que Eduardo agiu como um traidor da Pátria ao articular sanções ao Brasil para favorecer seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O petista cita diversos pedidos de cassação e de afastamento cautelar do deputado do PL, licenciado de seu mandato parlamentar desde março. O PL procura convencer Motta a analisar a atuação de Eduardo como a de um filho que age para a proteger o pai acuado por um processo processo no STF (Supremo Tribunal Federal).
No meio desses dois polos, trafegam interesses do empresariado prejudicado pelo tarifaço imposto por Trump. Motta tem boas ligações, por exemplo, com o agronegócio, a indústria e o mercado financeiro. A ideia de contaminar a pauta da Câmara no segundo semestre com a disputa polarizada não interessa a ele e, muito menos, aos setores produtivos que precisarão de auxílio do governo para enfrentarem um mercado com restrições de exportação para os Estados Unidos.
Pressão por anistia
Motta também enfrenta a pressão de Eduardo, a partir dos Estados Unidos, para que seja pautada um projeto contra as condenações dos acusados pela tentativa de golpe de Estado na última transição presidencial. Na quarta-feira, 30, após o governo americano aplicar a Lei Magnitsky contra Moraes, o deputado mobilizou a bancada conservadora no Brasil para pedir novamente que o Congresso Nacional aprove uma anistia “ampla, geral e irrestrita” para os condenados.
O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcanti (RJ), disse que intensificará a pressão para que Motta “cumpra o acordo de pautar o tema”, uma referência a acordos que teriam sido feito na época da eleição para a presidência da Câmara.
Motta tem procurado não opinar por considerar que há muitas hipóteses em aberto, segundo interlocutores próximos. Uma delas é a possibilidade de Eduardo voltar ao mandato. Na noite de quarta, ele foi bastante cuidadoso ao se pronunciar sobre a punição imposta ao ministro do STF: “Como país soberano, não podemos apoiar nenhum tipo de sanção por parte de nações estrangeiras dirigida a membros de qualquer Poder constituído da República. Isso vale para todos os parlamentares, membros do executivo e ministros dos Tribunais Superiores”, disse.