Mesmo que seja bem-sucedido e consiga aprovar, ainda este ano, as medidas incluídas no pacote fiscal divulgado na semana passada, dificilmente o governo conseguirá alcançar a economia de R$ 71,9 bilhões estimados para 2025 e 2026. Na avalição de economistas, na melhor das hipóteses, a economia será desidratada em R$ 20 bilhões, durante a tramitação das propostas no Congresso Nacional e, na pior, em R$ 30 bilhões.
Uma estimativa feita pelo time de economistas da consultoria MB Associados considera que o pacote está ancorado em “poucas medidas relevantes estruturais”. Com isso, acredita-se que a parte mais importante dos ganhos efetivos para o governo virá da restrição às emendas parlamentares. “Difícil acreditar que o Congresso manterá tudo com está, sem fazer nenhuma mudança”, explica Sérgio Vale, sócio e economista-chefe da consultoria.
Segundo ele, isso fará com que a economia gerada com o pacote seja insuficiente para estabilizar o crescimento da dívida em relação ao PIB (soma de tudo o que é produzido no país). “No máximo, o pacote fará cumprir as metas de zerar o déficit nas contas públicas, no ano que vem, e gerar um superávit de 0,5% do PIB em 2026”, estima. Se confirmado, isso fará com que a dívida siga em alta. “A dívida deverá bater 84% do PIB em 2026”, diz. “Serão doze pontos percentuais a mais entre 2022 e 2026”, complementa.
O esforço necessário para barrar essa trajetória e equilibrar a dívida seria muito alto. Nos cálculos do economista, considerando uma taxa real de juros de 7% ao ano (descontada a inflação) e crescimento do PIB em cerca de 1,8%, seria preciso fazer um superávit primário de cerca de 4,2% do PIB para estabilizar essa dívida em comparação com o PIB.
“Isso jogaria a economia numa recessão”, diz Vale. O maior problema, na avaliação de especialistas, é que as medidas incluídas no pacote são frágeis e não representam mudanças na estrutura do gasto público no Brasil. Entre elas está a que reduziu de dois salários mínimos para 1,5 a renda máxima para pagamento do abono salarial. Como a redução ocorrerá de forma diluída ao longo dos anos, Vale acredita que o patamar de 1,5 salário mínimo só será alcançado em 2035.
Para o economista, “os ajustes em programas sociais como BPC e no Bolsa Família repetem tentativas frustradas anteriormente pela equipe econômica”. E, nesse cenário, a maior parte dos ganhos terá que vir da restrição às emendas parlamentares, o que afeta diretamente deputados e senadores. Por isso, espera-se reação durante o trâmite da medida, com redução da economia total estimada pela equipe econômica.
Câmbio seguirá em patamar elevado
“Isso é o que estressou o mercado”, diz Vale. O câmbio atingiu a máxima histórica nos últimos dias e, apesar de ter recuado, segue no patamar de R$ 6. A expectativa inicial de fechar o ano abaixo de R$ 5 se mostra muito improvável, o que deverá ter reflexo em outras variáveis, como inflação e juros.
As expectativas de inflação deste ano, nesse cenário, devem se consolidar no teto da meta (4,5%), obrigando ao Banco Central a prolongar o ciclo de elevação dos juros e a promover altas mais fortes. A projeção é que a taxa Selic, atualmente em 11,25%, possa chegar a 14% ao ano, em junho de 2025.
Isso poderá restringir o crescimento, o que deve gerar queda na arrecadação de impostos do governo. “O governo entrará no terceiro de ano da gestão com fragilidade política e econômica”, afirma Vale. Por isso mesmo, a fala do ministro Fernando Haddad (Fazenda) no final da semana passada, durante almoço com representantes do mercado financeiro, de que se achar necessário, a equipe econômica poderá adotar novas medidas para ampliar o esforço fiscal, caiu em descrédito.
Cortes mais agressivos, normalmente, são mais fáceis de serem implementados no início do governo. “O risco é a gente repetir o governo Dilma Rousseff, que fez a economia mergulhar numa recessão em 2015/2016. O governo precisará de muita habilidade para evitar que isso ocorra em 2026”, diz.