A proposta deo governo de ampliar a faixa de isenção do Imposto de Renda para até R$ 5 mil chegou ao Senado em meio aos debates sobre justiça tributária e impacto fiscal. O senador Mecias de Jesus (RR), líder do Republicanos, considera a medida “um passo importante, mas ainda tímido” diante do peso que recai sobre a classe média. Em entrevista ao PlatôBR, ele defendeu uma reforma tributária que alivie de forma permanente “quem sustenta” o país.

Para o parlamentar, o problema não é a falta de dinheiro, mas o tamanho do Estado e o desperdício de recursos. “Se houvesse corte de privilégios, redução de estruturas desnecessárias e foco em gestão, haveria espaço de sobra para essa medida sem comprometer as contas públicas. O que falta não é dinheiro, é prioridade”, afirmou.

Sobre a tramitação no Senado, Mecias reforçou que o debate precisa ser feito com responsabilidade. Ele disse que o Republicanos seguirá a lógica do equilíbrio: apoiar medidas boas para o país e cobrar o que for considerado irresponsável, sempre com foco no trabalhador e na sustentabilidade das contas públicas. Eis a entrevista:

O governo quer ampliar a faixa de isenção do Imposto de Renda para até R$ 5 mil, o que deve beneficiar milhões de trabalhadores. O senhor considera que essa medida é um passo importante de justiça tributária ou ainda tímido diante da carga que pesa sobre a classe média?
É um passo importante, mas ainda tímido diante do peso que o trabalhador carrega. O Brasil cobra muito imposto e devolve pouco em serviços. Quem mais sustenta o sistema é justamente a classe média, que trabalha, produz e paga em dia. Precisamos de uma reforma tributária que olhe para o cidadão comum e reduza de forma permanente a carga sobre quem movimenta o país.

Há preocupação com o impacto fiscal dessa medida. O senhor acredita que há espaço no orçamento para bancar a ampliação sem comprometer as contas públicas?
O projeto do governo não apresenta uma compensação adequada para estados e municípios, que perdem arrecadação quando se amplia a faixa de isenção. Essa perda precisa ser equilibrada, porque são os estados e prefeituras que prestam os serviços diretos à população. O governo fala em tributar os mais ricos, o que é justo, mas é preciso garantir que isso não recaia sobre pequenas e médias empresas, que são as que realmente geram empregos e sustentam a economia. O problema do Brasil não é desonerar o trabalhador, é o tamanho do Estado e o desperdício de recursos. Temos um governo inchado, com gastos crescentes e pouca eficiência. Se houvesse corte de privilégios, redução de estruturas desnecessárias e foco em gestão, haveria espaço de sobra para essa medida sem comprometer as contas públicas. O que falta não é dinheiro, é prioridade.

O tema chega ao Senado com pressão do governo para uma tramitação rápida. O senhor vê ambiente político favorável para aprovar a proposta ainda neste ano?
O Senado vai analisar com responsabilidade. Não há espaço para pressa em um tema que mexe com o bolso de milhões de brasileiros e com as finanças dos estados e municípios. Se o texto vier bem construído e equilibrado, acredito que há ambiente para avançar ainda este ano. Mas vamos discutir com transparência e sem atropelar o debate.

Alguns senadores apontam que a medida tem viés eleitoral, mirando 2026. O senhor enxerga esse risco ou considera que o ajuste é apenas uma questão de justiça tributária?
Essa é uma medida fundamental. O governo, como sempre, tenta se apropriar dela com um viés eleitoral, mas quem está fazendo o trabalho de verdade é o Congresso. É aqui que o texto está sendo debatido, elaborado e aperfeiçoado. Nós, no Senado, estamos buscando o equilíbrio e a justiça tributária, e não um benefício de ocasião. É o Parlamento que garante as mudanças que o Brasil precisa.

O Republicanos tem buscado manter uma postura de equilíbrio no Senado. No caso do IR, o partido deve se alinhar à base do governo ou à oposição?
O Republicanos tem lado, e o nosso lado é o do trabalhador. Vamos apoiar o que for bom para o país e cobrar o que for irresponsável. Não se trata de ser base ou oposição, mas de agir com coerência e responsabilidade fiscal. Defendemos justiça tributária, mas também a sustentabilidade das contas públicas, porque sem equilíbrio não há progresso duradouro.