O deputado Altineu Côrtes (PL-RJ), aliado de primeira hora do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ), liderou o partido na Câmara por três anos, desde 2022. Ele saiu da liderança do partido para assumir a vice-presidência da casa, na costura da ampla aliança que levou Hugo Motta (Republicanos-PB) ao poder. Mesmo tendo deixado o cargo para o atual líder do PL, o deputado Sóstenes Cavalcanti (RJ), Altineu é um dos parlamentares mais influentes na bancada do partido e um expoente da direita.
Nesta terça-feira, 15, em conversa com o PlatôBR, ele criticou o comportamento do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-RJ), que, na sua avaliação, é motivado por “forte emoção”, mas prejudica o campo da direita. Côrtes se referia, especificamente, às rusgas do filho do ex-presidente com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), após as ameaças feitas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de sobretaxar as exportações brasileiras em 50% a partir de 1º de agosto.
Eduardo Bolsonaro criticou Tarcísio, nome cotado para ser o candidato da direita nas eleições de 2026, pelo diálogo que o governador abriu com empresários e com o chefe da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil para tentar derrubar o tarifaço. O filho do ex-presidente se referiu ao governador como uma pessoa de “subserviência servil às elites”.
Para Altineu Côrtes, Eduardo Eduardo está defendendo o direito à liberdade de expressão e, sobretudo, o pai dele, o que faz com que tenha muita “emoção envolvida”. Mas atitudes como essa, ressalvou o vice-presidente da Câmara, podem não ser as melhores nas relações políticas. “Isso prejudica a direita”, criticou.
Côrtes também reclamou do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, diz, não tem dado a importância devida aos Estados Unidos e não tem feito movimentos para negociar com Washington. “A gente precisa enxergar o que os países no mundo inteiro fazem na relação com os Estados Unidos. Se a China e a Índia se sentam para dialogar, então o comportamento do presidente Lula deveria ser esse, e não jogar gasolina no empreendimento da maior potência do mundo. Agindo assim, Lula prejudica o povo brasileiro”, disse. Eis a entrevista:
Como o senhor tem visto esse tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e as reações no Brasil?
A gente defende o diálogo.
O senhor acha que vai haver algum recuo por parte dos Estados Unidos?
Eu acho que a gente precisa enxergar o que os países no mundo inteiro fazem na relação com os Estados Unidos. Se a China e a Índia se sentam para dialogar, se todos se sentam para dialogar, então o comportamento do presidente Lula deveria ser esse, e não jogar gasolina no empreendimento da maior potência do mundo. Agindo assim, Lula prejudica o povo brasileiro.
O senhor entende que o presidente Lula deveria negociar com Trump, cedendo em pontos colocados que significam interferência direta na Justiça do Brasil?
O Lula está politizando um discurso nacionalista, mas, ao mesmo tempo, ele está prejudicando a população brasileira. O Lula está peitando os Estados Unidos. Isso talvez seja bom para o ego dele e, politicamente, para o discurso dele. Mas quem vai pagar essa conta é o povo brasileiro, por falta de habilidade do presidente Lula.
Trump vinculou a imposição de tarifas ao julgamento do caso Bolsonaro. Que negociação é possível diante disso? Que argumentos devem ser apresentados pelo governo brasileiro?
O diálogo deve ser permanente para vencer isso tudo. Por que o Lula não faz isso? Ele prefere ficar no discurso político e deixa os interesses do povo brasileiro de lado.
Como o senhor enxerga essas provocações mútuas dentro da direita envolvendo o deputado Eduardo Bolsonaro e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, dois nomes pensados para a disputa à Presidência no próximo ano?
O Tarcísio é absolutamente leal ao presidente Bolsonaro e é um dos governadores mais bem avaliados do Brasil. Então precisa ter paciência. Não adianta ficar criticando. Mesmo que o governador tenha tomado um posicionamento que desagradou o deputado Eduardo, isso deve ser resolvido internamente. Eu acho que essas críticas públicas não ajudam a ninguém.
Esse episódio expõe uma divisão que pode prejudicar eleitoralmente o campo da direita?
O Eduardo, está, sobretudo, defendendo o direito à liberdade de expressão, defendendo o pai dele, que é o ex-presidente Bolsonaro. Então, tem muita emoção envolvida aí. Às vezes, essas atitudes não sejam as melhores nas relações políticas e isso prejudica a direita, quando existe uma declaração pública dessa, colocando um governador como servil. Mas ninguém pode deixar de colocar que o Eduardo Bolsonaro sofre uma forte pressão emocional porque envolve o pai dele. Ele está fazendo um trabalho que a gente considera importante para defender a liberdade no Brasil.