A eleição de 1974 marcou a virada política da oposição contra a ditadura militar brasileira. O movimento estudantil abraçou as candidaturas do MDB e foi fazer campanha nas ruas. As vozes radicais pelo voto nulo foram sumindo. As tendências de ultraesquerda que foram para a luta armada foram derrotadas militarmente em todas as frentes. Parte importante da esquerda ligada ao PCB rejeitou a luta armada desde o início, abandonou a utopia da revolução, assumiu a democracia como um valor universal e se engajou na aliança política e eleitoral ampla pelas liberdades democráticas.

Pela primeira vez, ouvi a expressão “patriotas equivocados”, usada em referência aos grupos guerrilheiros que decidiram enfrentar o estado policial do regime militar com ações armadas. A democracia no Brasil foi conquistada na política, por uma frente ampla com liberais e conservadores democráticos. A luta armada dos patriotas equivocados da extrema esquerda só atrapalhou.

​O movimento de massas de 2013 aglutinou um descontentamento difuso impulsionado pela frustração com o governo do PT. A semente do movimento de ultradireita saudosista da ditadura militar germinou neste processo e fortaleceu-se com a monumental indignação antipetista. O interregno Michel Temer não foi capaz de conter a escalada da irracionalidade e retomar o projeto social democrático iniciado com o Plano Real, já emparedado pelas duas forças extremistas radicalizadas. Bolsonaro assume a maioria do eleitorado do PSDB, visto como sendo uma alternativa política fraca para o enfrentamento da forte propaganda petista nos meios digitais.

Com surpreendente desenvoltura nas novas tecnologias de comunicação, o capitão captura as bandeiras do patriotismo, do liberalismo econômico, dos evangélicos, do antipetismo e chega ao poder em 2018. A pandemia da Covid-19 revela a fraqueza do negacionismo científico da extrema direita e o governo Bolsonaro se inviabiliza, abandonando a política econômica liberal representada por Paulo Guedes e a luta contra a corrupção encarnada por Sergio Moro. Assim, consolida-se a extrema direita brasileira identificada ao radicalismo reacionário e antidemocrático internacional liderado por Donald Trump e comandada no país pela inacreditável família Bolsonaro.

​Em 2022, o projeto bolsonarista, isolado no radicalismo com os patriotas equivocados da extrema direita, desenterra velhos lemas integralistas, como “Deus, Pátria e Família”, e perde por pouco as eleições presidenciais. Os acampamentos pró-intervenção militar na frente dos quarteis e o quebra-quebra do Oito de Janeiro, assumidos como sendo a antessala do retorno a um regime ditatorial, foram desmascarados e derrotados. Manipulados pela mídia digital extremista, embarcaram na agressão indefensável de Donald Trump ao Brasil e estão sendo punidos dura e exemplarmente pelo Judiciário brasileiro.​

O governo Lula, com sua política externa errática e contaminada por antigos preconceitos antiliberais, pareceu um alvo fácil e conveniente para o tirano pós-moderno Donald Trump demonstrar sua força. O clã Bolsonaro resolveu pegar carona para intimidar as instituições brasileiras usando o porrete norte-americano e acabou colhendo sanções econômicas e políticas para o Brasil e para a economia brasileira. O resultado da encrenca é que vão complicar os processos judiciais do clã Bolsonaro e fortalecer o claudicante governo Lula, agora animado a liderar o interesse nacional contra os malvados ianques e, assim, mostrar-se mais patriota que o capitão.

​O Brasil precisa se livrar do radicalismo, do populismo e construir um projeto eleitoral alternativo ao lulopetismo. Que unifique o Brasil Democrático, seja reformista e orientado para a realidade da economia de mercado contemporânea e seus desafios tecnológicos, sociais e ambientais. Sem que a sombra do bolsonarismo e seus patriotas equivocados atrapalhem.

Luiz Paulo Vellozo Lucas é engenheiro de produção e professor universitário. Foi prefeito de Vitória-ES e deputado federal pelo PSDB-ES. Integra a Academia Brasileira da Qualidade (ABQ)