Políticos ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disseram no fim de semana que pretendem aprovar no Colégio de Líderes da Câmara na quinta-feira, 20, um pedido de urgência do projeto de lei que anistia os condenados pelos atos de 8 de janeiro de 2023. Nas contas do líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), a proposta teria votos para ser aprovada pelo plenário da Câmara. Na prática, porém, os defensores do perdão dos responsáveis pela tentativa de golpe de Estado na transição de governo entre 2022 e 2023 terão dificuldades para obter apoios suficientes para o avanço do texto.
Uma das dúvidas sobre a viabilidade da tramitação da proposta de anistia é o posicionamento do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). Em todas suas manifestações sobre o assunto, Motta demonstrou dubiedade sobre suas intenções sobre o projeto. Como um equilibrista, até agora ele agiu de forma a manter as boas relações com o governo, contrário à aprovação, e também com a oposição, favorável à iniciativa. Daqui pra frente, em algum momento, suas atitudes vão demonstrar de que lado ele está.
Outro problema para a anistia pode ser observado no PSD, sigla incluída por Sóstenes entre as que defendem a aprovação do projeto. O próprio presidente do partido, Gilberto Kassab, admite que somente metade do partido votaria a favor do projeto. Na bancada, a avaliação é que, dos 44 deputados, 20 defendem o texto. A divisão interna envolve estrelas da legenda. Enquanto Kassab, que é articulador de Tarcísio Freitas (Republicanos) em São Paulo, é pressionado por Jair Bolsonaro a levar a sigla para o apoio a proposta, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, tem se movimentado no sentido oposto e trabalha para não deixar os deputados fluminenses votarem pela anistia. Nesta terça-feira, 18, a reunião da bancada do partido na câmara terminou sem uma decisão.
Nesse sentido, o partido de Tarcísio é um problema ainda maior. Embora esteja no campo conservador, o Republicanos não embarcou o projeto de anistia. O presidente da sigla, deputado Marcos Pereira (SP), que também é bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, disse não ser favorável à proposta porque ela não poderia ser aprovada antes que todas as ações sejam analisadas e finalizadas, sob risco de a iniciativa abrir espaço para que partidos contrários judicializassem a medida no STF.
Essa é a versão oficial. Na verdade, políticos do Republicanos dizem, reservadamente, que o comandante da sigla não defende a proposta em represália a Bolsonaro. O ex-presidente da República teria vetado o apoio de seu partido, o PL, à candidatura de Pereira à presidência da Câmara. Com isso, o deputado ligado à Igreja Universal desistiu de disputar o cargo e apoiou Hugo Motta, então líder de seu partido, que acabou vitorioso. Pereira, no entanto, não esqueceu o episódio e guarda mágoas tanto de Bolsonaro quanto Kassab, que também lhe recusou apoio.
Há mais um motivo para a resistência do Republicanos ao projeto de anistia. Integrantes do partido lembram que um dos maiores aliados de Bolsonaro, o pastor Silas Malafaia, líder da igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, é um duro crítico da Igreja Universal do Reino de Deus, liderada pelo bispo Edir Macedo, e ligada ao partido. Essas igrejas disputam espaço e poder no meio evangélico.
Para os membros da sigla contrários à anistia, estar ao lado de Bolsonaro agora é também prestigiar o pastor Malafaia, que tem se apresentado como o coordenador dos comícios que o ex-presidente realiza pelo país em defesa do projeto que perdoa os envolvidos no 8 de janeiro.