Vice-presidente do PT, o deputado Jilmar Tatto (SP), tem se dedicado a organizar no partido o congresso que ocorrerá em abril do ano que vem, bem na porta da campanha eleitoral. Segundo ele, a legenda entregará ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugestões para o programa de governo com vista a um eventual quarto mandato. Até o momento, dois assuntos são consenso dentro da sigla para constar no documento. O primeiro é o fim da escala 6×1, outro é a implantação da tarifa zero, um sistema gratuito de transporte público.

A questão da paridade de gênero para as instâncias de poder, no entanto, ainda não foi incorporada ao discurso do partido. Tatto disse ao PlatôBR que, diante dos movimentos feito pelo presidente na direção dos direitos das mulheres, essa proposta será “inevitável”. “Acho que o PT está maduro para levar a Lula uma proposta de paridade de gênero nas instâncias do poder. O partido tem um histórico relacionado a isso. Nas instâncias partidárias nossas, já há a paridade. Isso foi uma conquista. Eu diria que vai ser inevitável”, disse Tatto.

Nas últimas semanas, Lula tem se dedicado ao assunto, mas com um foco muito voltado para o combate à violência contra a mulher e ao feminicídio. O presidente não esconde que seu movimento é influenciado pela primeira-dama, Janja da Silva, que teria chorado ao se deparar com os últimos casos noticiados pela imprensa. Lula quer tocar a pauta feminina, no entanto, mantém silêncio em relação ao empoderamento de mulheres e coleciona passivos de imagem devido à indicação somente de homens para as instâncias como o STF (Supremo Tribunal Federal), como ocorreu com os ministros Cristiano Zanin, Flávio Dino e, agora, Jorge Messias.

Nesta terça-feira, 16, o presidente realizou uma reunião no Palácio do Planalto para tratar de violência de gênero. A abordagem do presidente em relação ao assunto é buscar formar um movimento de homens na defesa das mulheres. Mas nada ainda em relação a paridade.

Confira os principais trechos da conversa com Jilmar Tatto:

Qual será a participação do PT no programa para a campanha de reeleição de Lula?
Vamos fazer um Congresso do PT em abril e vamos apresentar diretrizes para o programa à reeleição do presidente Lula. Dentre essas sugestões, tem dois temas que são muito caros. Um é o fim da escala 6 por 1, que está bastante maduro na sociedade brasileira. Já há iniciativas, inclusive de empresas privadas e o debate no Congresso Nacional está avançado. Outro tema – esse é mais novo, mas também necessário – que é a tarifa zero, ou seja, o transporte gratuito para a população nos municípios. Há um colapso do sistema de transportes, não adianta você pagar tarifa. O usuário foge do sistema de transportes porque não tem dinheiro, há um processo de uberização e de degradação do sistema. Por isso é que nós defendemos a criação de um sistema único de mobilidade, muito parecido com o que é o sistema único de saúde, com a participação da União e dos governos dos estados e dos municípios.

Mas há resistências de empresários em relação a isso. Como convencê-los?
Esse é o único serviço público essencial que está na Constituição e que a população paga para exercer. Além disso, é o serviço que dá acesso aos outros direitos como saúde, educação. Não é uma novidade, isso já existe no Brasil em 138 cidades, há em várias outras cidades do mundo e, onde foi implantado diminuiu o congestionamento, melhorou a questão ambiental e melhorou a economia. O presidente está muito sensível a isso e estamos conversando com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para fazer estudos e ver como o governo federal pode entrar nesse tema. Se for possível, ainda nesse mandato. Se não, vamos colocar no programa de governo, para o mandato seguinte.

Quando é que o PT vai tratar da questão da paridade de gênero?
Acho que o PT está maduro para levar a Lula uma proposta de paridade de gênero nas instâncias do poder. O partido tem um histórico relacionado a isso, nas instâncias partidárias nossas já têm a paridade, isso foi uma conquista. Evidentemente que isso depende muito da legislação, mas é um debate que está sendo feito e avançando cada vez mais.

Mas isso estará nas sugestões a serem levadas ao presidente?
Eu diria que vai ser inevitável para os órgãos do Executivo e para o Parlamento. É uma necessidade. Em países grandes, o México é um deles, já se tem essa paridade.