A operação da Polícia Federal na quarta-feira, 20, fechou um pouco mais o cerco das investigações contra Jair Bolsonaro a menos de duas semanas de seu julgamento pelo STF. Em prisão domiciliar desde o final de julho, o ex-presidente foi mais uma vez indiciado pela PF, acusado desta vez de tentar interferir no Supremo contra a ação penal sobre tentativa de golpe de Estado.

Na mesma quarta-feira, a Polícia Federal realizou busca e apreensão contra o pastor Silas Malafaia, que chegava de Portugal, no aeroporto do Galeão. Ele é acusado de apoiar Bolsonaro em ações contra o tribunal.

Por determinação do ministro Alexandre de Moraes, Bolsonaro terá de prestar esclarecimentos até a noite desta sexta-feira, 22, a respeito de suposta violação de medidas cautelares e risco de fuga. Entre os documentos usados na investigação, está um pedido de asilo à Argentina encontrado em seu telefone celular. Na hipótese de confirmação do descumprimento das restrições determinadas pelo STF, Moraes pode ordenar a prisão preventiva do ex-presidente.

A PF também indiciou o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) por atuar junto ao governo dos Estados Unidos na adoção de medidas contra o Brasil, com o objetivo de tentar impedir a condenação do ex-presidente. Os dois são acusados dos crimes de obstrução à Justiça, coação no curso do processo e atentado ao Estado Democrático de Direito.

Também na quarta-feira, Moraes liberou a divulgação de áudios e mensagens escritas trocadas por Bolsonaro com Eduardo e Malafaia. O material teve grande repercussão na imprensa e nas redes sociais por expor o nervosismo e as brigas internas do grupo do ex-presidente em decorrência do avanço das investigações. Além do conteúdo comprometedor para os investigados, os diálogos chamaram a atenção pela quantidade de palavrões e expressões chulas usadas pelo pastor e pelo filho do ex-presidente.

Ex-presidente movimentou R$ 45 milhões em pouco mais de dois anos
Um relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) anexado ao inquérito sobre obstrução do julgamento mostra que Bolsonaro recebeu cerca de R$ 44 milhões entre março de 2023 e junho de 2025. Desse total, em torno de R$ 20 milhões foram transferidos por Pix ao ex-presidente. O período analisado coincide em parte com a época da campanha de arrecadação feita por aliados depois que ele deixou o Planalto.

A PF ainda analisa o fluxo financeiro registrado pelo Coaf. Nas movimentações de recursos, Bolsonaro repassou quantias significativas para sua mulher, Michelle, e para o filho Eduardo.

Semana de vitórias e derrotas do governo no Congresso
Com o clima tenso por causa da proximidade do julgamento de Bolsonaro, o governo sofreu derrotas inesperadas no Congresso, mas também obteve vitórias significativas. Na quarta-feira, 20, a oposição elegeu o senador Carlos Viana (Podemos-MG) para presidente e o deputado Alfredo Gaspar (União-AL) para relator da CPI mista do INSS.

O resultado surpreendeu o governo, que havia feito acordo com a cúpula do Congresso para indicar o senador Omar Aziz (PSD-AM) e o deputado Ricardo Ayres (Republicanos-TO) para os dois cargos. Com a derrota do Planalto, a oposição ganha um palanque para pressionar Lula nos próximos meses.

Outro revés sofrido pelo governo no mesmo dia foi a aprovação, na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado, da instituição do voto impresso para as próximas eleições. A proposta ainda será levada ao plenário.

A maior vitória do Planalto foi a aprovação pela Câmara, na quinta-feira, 21, do regime de urgência para o projeto de lei que isenta de Imposto de Renda quem ganha até R$ mil mensais. Essa é a proposta mais importante para Lula na reta final de seu terceiro mandato. Com forte apelo eleitoral, é uma das apostas eleitorais do petista para 2026.

Um dia antes, a Câmara aprovou o projeto de lei do senador Alessandro Vieira (MDB-SE) que cria regras para a proteção de crianças e adolescentes nas redes sociais. O Planalto apoia o texto. A oposição resistiu ao texto, mas a previsão é que não imponha obstáculos no Senado.

Com a presença de Tarcísio de Freitas e Ciro Gomes, União Brasil e PP formalizam federação
Uma convenção conjunta realizada pelo União Brasil e pelo PP formalizou a criação da federação entre os dois partidos. A aliança entre as duas legendas, comandada pela oposição, tem as maiores bancadas na Câmara e no Senado e o maior volume de recursos para as eleições de 2026.

O objetivo da federação é formar um polo para enfrentar o governo, embora os ministros das duas siglas não demonstrem intenção de deixar a Esplanada. O dia da convenção teve a presença de dois políticos de peso que se posicionam para as disputas eleitorais do ano que vem: o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o ex-ministro Ciro Gomes (PDT).

Lula sobe nas pesquisas
Uma pesquisa Genial/Quaest divulgada na quinta-feira, 21, mostra o presidente Lula à frente de todos os adversários na corrida para o Planalto em 2026. O petista aparece à frente de todos os adversários, nos dois turnos, nos cenários propostos pelo instituto, desempenho superior aos levantamentos anteriores, quando algumas simulações apontavam empate técnico.

Nas projeções para o segundo turno, Lula aparece com 47% das intenções contra 35% de Jair Bolsonaro e vence Tarcísio de Freitas por 47% a 35%. Em relação ao outros nomes, Lula ganha de Michelle Bolsonaro (44% a 34%), de Eduardo Bolsonaro (47% a 32%), de Flávio Bolsonaro (48% a 32%), de Romeu Zema (47% a 32%), de Ratinho Júnior (46% a 30%), de Eduardo Leite 4(6% a 30%), e de Ronaldo Caiado (47% a 31%).

Os números positivos para Lula, segundo os pesquisadores, refletem a melhora da percepção da população em relação à inflação e à avaliação feita em relação ao enfrentamento com os Estados Unidos por causa do tarifaço.