A Polícia Federal (PF) planeja concluir e encaminhar em fevereiro o relatório final da Operação Última Milha, que investiga o uso indevido de ferramentas de espionagem pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante a gestão do então diretor Alexandre Ramagem, atualmente deputado federal pelo PL do Rio de Janeiro. O documento deverá incluir o indiciamento de Ramagem por suspeita de chefiar o monitoramento ilegal de autoridades, jornalistas e adversários políticos.
A Operação Última Milha foi deflagrada pela PF para apurar o uso indevido do software de espionagem israelense FirstMile pela Abin. Comprado em 2018, o FirstMile permite rastrear a localização de dispositivos móveis por meio de redes de telefonia. As investigações indicam que, durante o governo de Jair Bolsonaro, o software foi empregado para monitorar ilegalmente diversas pessoas, incluindo ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), parlamentares e jornalistas. 
De acordo com as investigações da PF, Alexandre Ramagem, enquanto diretor-geral da Abin entre 2019 e 2022, teria liderado uma estrutura paralela dentro da agência, conhecida como “Abin paralela”. Essa unidade clandestina teria sido responsável por monitorar ilegalmente indivíduos considerados adversários políticos do governo Bolsonaro, além de produzir informações para uso político e midiático, visando obter vantagens pessoais e interferir em investigações da própria PF. 
A PF identificou que o software FirstMile foi utilizado aproximadamente 30 mil vezes, sem autorização judicial, para monitorar a localização de celulares de diversas autoridades e cidadãos. Entre os alvos estariam os ministros do STF Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, e o ex-presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia.
Em resposta às acusações, quando da operação, Alexandre Ramagem negou o envolvimento em atividades ilegais e afirmou que nunca teve acesso a senhas de sistemas ou programas que teriam sido usados para espionagem. Ramagem chamou as alegações como uma “salada de narrativas” para incriminá-lo.