O PL, partido de Jair Bolsonaro e Valdemar Costa Neto, passou o ano de 2024 com a despensa cheia. Segundo prestação de contas ao Tribunal Superior Eleitoral, a sigla gastou nada menos que R$ 334 mil em compras em uma rede de supermercados de Brasília, a Dona, antiga Dona de Casa. Essas despesas dão uma média de R$ 27,8 mil por mês, cerca de R$ 7 mil por semana, quase R$ 1 mil por dia. O partido diz que as compras foram destinadas ao "preparo de refeições para os funcionários" e que os custos foram cobertos com dinheiro de doações à sigla, sem recursos públicos.
A preferência do partido do bolsonarismo pela rede Dona não é nova, mas chama a atenção a multiplicação das despesas em relação aos últimos anos. Em 2022, o PL gastou R$ 53,3 mil nos supermercados Dona. Em 2023, R$ 46,6 mil.
Na prestação de contas de 2024, as compras foram registradas em quatro CNPJs diferentes da rede de supermercados, ou seja, quatro lojas. Duas delas ficam na Asa Norte, em Brasília, uma em Taguatinga e uma no Guará, regiões administrativas do Distrito Federal.
As despesas do ano passado ainda não estão acompanhadas das notas fiscais, mas nos anos anteriores se vê que são gastos com compras de hortifruti, carnes variadas, refrigerantes, sucos, queijos, temperos e produtos em geral (veja exemplos de 2023 aqui, aqui, aqui e aqui). Ao TSE, os itens são apresentados como “materiais de copa e cozinha”.
Os meses em que o PL mais informou gastos na rede de supermercados em 2024 foram maio, com cinco compras totalizando R$ 43,7 mil; agosto, quando cinco notas fiscais somaram R$ 39,6 mil; novembro, com R$ 39,1 mil gastos em três desembolsos; e junho, com seis compras no valor total de R$ 38 mil. O mês com menos gastos nos supermercados foi fevereiro: R$ 9,6 mil.
O valor de algumas despesas individuais nos supermercados apresentadas pelo PL ao TSE também impressiona: R$ 18 mil em 18 de novembro de 2024; R$ 17,1 mil em 17 de maio; R$ 15,6 mil em 15 de julho e 6 de setembro; e R$ 11,4 mil em 1º de novembro. Em outro caso, no fim de 2023, é de se ressaltar a data da compra: R$ 4,9 mil em 31 de dezembro daquele ano.
Na terça-feira, 28, dois dias depois da publicação da reportagem, o PL retornou o contato da coluna e informou que as compras no supermercado foram bancadas com "recursos próprios", oriundos de doações à legenda.
"O Partido Liberal informa que as aquisições realizadas junto ao Supermercado Dona de Casa, destinadas ao preparo de refeições para os funcionários, foram financiadas exclusivamente com recursos próprios, originados de doações feitas ao partido. Esclarecemos que tais despesas não envolvem, em hipótese alguma, a utilização de recursos públicos, sendo inteiramente custeadas por valores provenientes das doações mencionadas, em estrita conformidade com a legislação eleitoral e partidária vigente", disse o PL.