PODER E POLÍTICA. SUA PLATAFORMA. DIRETO DO PLANALTO

Planalto está animado com Hugo Motta e conformado com Davi Alcolumbre

Lula sabe que apetite de Alcolumbre é grande e espera relação mais fácil com Motta, ainda que passado com Cunha gere dúvida

Fotos: Mário Agra/Câmara dos Deputados; Saulo Cruz/Agência Senado
Fotos: Mário Agra/Câmara dos Deputados; Saulo Cruz/Agência Senado

O Palácio do Planalto está animado com Hugo Motta e conformado com Davi Alcolumbre. Os já eleitos presidentes da Câmara e do Senado — sim, porque a falta de adversários competitivos torna o que haverá hoje no Congresso não uma eleição, mas uma unção da dupla — não eram os candidatos dos sonhos de Lula e de Alexandre Padilha. Preferiam um Antonio Britto, do PSD da Bahia, na Câmara e um Otto Alencar, do mesmo partido e do mesmo estado, no Senado. Mas a realidade se impôs e ela segue dura, bem dura, para a articulação política do governo.

No Senado, o governo está conformado com Alcolumbre porque nunca houve outra opção viável. Ninguém, entre 2023 e 2024, chegou a encostar no favoritismo do senador amapaense. Aliás, desde que deixou a presidência da Casa, em 2021, Alcolumbre nunca deixou de ser, se não o mais poderoso, o segundo com mais força política no Senado. A razão disso é seu papel central na distribuição do bolo das emendas, algo autorizado nesses quatro anos por Pacheco, com a concordância de Bolsonaro, primeiro, e de Lula, depois.

O Planalto sabe que Alcolumbre segue antenadíssimo em oportunidades para negociar. O senador tem de cor os cargos de que precisa para sua estratégia política e soube engendrar, desde o começo do orçamento secreto, usos criativos para as emendas. Suas bases e de seus aliados sempre foram muito bem atendidas por elas. A depender do governo, nada disso mudará. Sabem que Alcolumbre pedirá muito e, ainda que em doses homeopáticas, estão dispostos a dar bastante também. A coisa pode entornar se o apetite já grande do senador se descontrolar, algo possível num cenário de agravamento da impopularidade do governo.

Já Hugo Motta está sendo beneficiado pelo contraste com Arthur Lira. Hugo é gentil, afável, educado, transmite humildade. Sabe escutar. Não gosta de briga. E tem bem menos adversários na vida política do que Lira. Tem entusiasmado o Planalto a perspectiva de ter que lidar com alguém menos truculento e aparentemente mais disposto a fazer a coisa dar certo, o que nunca pareceu ser espírito de Lira.

Mas Motta também é, de certa maneira, uma incógnita. Quão aplicado aluno ele foi de Eduardo Cunha? O ex-presidente da Câmara o pegou pela mão em seu primeiro mandato, há dez anos, viu seu potencial e de cara lhe deu o comando da CPI da Petrobras. Motta, assim como Lira (e também Rodrigo Maia, aliás), fazia parte da tropa de choque de Cunha. Se ele aprendeu a arte da articulação política e ficou nisso, ótimo para Lula. Mas, se Motta também foi disciplinado para pegar a manha de como achacar e de testar os limites da Constituição e do Código Penal nessa missão, o governo terá problemas.

Traçadas essas análises, o fato é que algo essencial não mudou ainda: as emendas milionárias em posse de parlamentares tornam a negociação política bem mais difícil para o governo. Este e qualquer outro. Isso não mudará com Davi Alcolumbre e Hugo Motta. A menos que o STF — Flávio Dino, principalmente — queira.

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