Roseana Murray, poeta de 74 anos, é uma mulher de muitas vidas. Em abril do ano passado, um ataque de pitbulls enquanto ela caminhava em uma praia de Saquarema (RJ), onde vivia, por pouco não a matou. A perda do braço direito, que precisou ser amputado, inspirou seu último livro: “O braço mágico”. Em dezembro, o jornalista Juan Arias, seu marido, morreu aos 92 anos. Roseana precisou renascer nas duas perdas e tem transformado em poesia tudo o que atravessou.

Seus leitores poderão vê-la e ouvi-la na Bienal do Livro Rio, onde participará no dia 16 de junho do Café Literário, que completa 25 anos na programação do evento literário organizado desde 1983. Com mediação de Bianca Ramoneda, será sua segunda vez no Café. “Bianca vai dar o teor da conversa, não preparei nada, está tudo na minha cabeça. As pessoas ficam curiosas para saber como estou. Já aprendi a fazer tudo com a mão esquerda”, contou por telefone.

Após a morte de Juan, com quem foi casada durante 27 anos, mudou-se de Saquarema para um sítio antigo da família em Visconde de Mauá (RJ), onde já criou um clube de leitura de dramaturgia – sem esquecer do clube em Saquarema, cidade que não tem uma biblioteca sequer, que ela mantém desde 2010. “Eu sabia que mudaria para Mauá no dia em que Juan partisse. Éramos muito apaixonados, muito companheiros. Aqui, em Mauá, eu aguento a ausência dele. Lá, não”, disse.

“O braço mágico”, lançado para crianças pela Estrela Cultural, surgiu quando Roseana, ainda no hospital, começou a transformar o acidente em história. O livro fala sobre uma avó de cabelos vermelhos – iguais aos dela – e seus netos. Ao saberem da perda do braço, as crianças queriam ter certeza de que a avó estava viva – e acalmam-se somente ao vê-la sorrindo. O braço mágico, na história, leva crianças e adultos a mundos encantados. É o que ela faz com seus livros há 45 anos.

E novas obras estão a caminho – segundo ela, “livros belíssimos”, um deles sobre anjos, em um olhar não religioso sobre o tema. “Sou uma fábrica de poesia. O moinho está sempre girando.”