O procurador-geral da República, Paulo Gonet, pediu nesta quarta-feira, 15, a reabertura do inquérito encerrado pela Polícia Federal e arquivado pela PGR no final de 2022 sobre a interferência de Jair Bolsonaro na Polícia Federal, denunciada pelo então ministro da Justiça, Sérgio Moro, atual senador do União Brasil pelo Paraná. A solicitação responde ao ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no Supremo Tribunal Federal, a respeito da confirmação do arquivamento, decidido pelo antecessor de Gonet no comando da PGR, Augusto Aras.

Bolsonaro tentou colocar o atual deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) como chefe da PF, no posto dado por Moro ao delegado Maurício Valeixo. O episódio foi interrompido após pedido de demissão do ex-juiz da Lava Jato e da denúncia da interferência de Bolsonaro. Ramagem acabou indicado a chefe da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), usada por Bolsonaro para monitorar e perseguir adversários.

O caso estava encerrado desde o final de 2022. A PF concluiu não existir indícios de crimes e concluiu o inquérito e Aras pediu o arquivamento. Moraes enviou a Gonet, em maio de 2024, um pedido de manifestação sobre o despacho de Aras.

Nesta quarta-feira, 15, saiu a resposta. A PGR informou ser necessário verificar “com maior amplitude se efetivamente houve interferências ou tentativas de interferências” relatadas por Moro em 2020. O objetivo é averiguar o possível “uso da estrutura do Estado e a obtenção clandestina de dados sensíveis”. Entre os inquéritos que podem ser abastecidos por novos dados, está o que trata da chamada “Abin paralela”, que pode atingir o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PL), filho do ex-presidente.

Gonet aponta a necessidade de novas apurações com o objetivo de identificar possíveis elos entre a tentativa de Bolsonaro de indicar o superintendente da PF em 2020 para uso político da polícia, os crimes em julgamento na Primeira Turma do STF contra os cabeças da trama golpista e outros inquéritos abertos.

O procurador-geral da República cita possíveis vínculos entre esse caso e a investigação “de organização criminosa responsável por ataques sistemáticos a autoridades, ao sistema eleitoral e a instituições públicas” que acessava e usava de forma clandestina “dados sensíveis” para “propagação de notícias falsas (fake news) e uso das estruturas da Abin e do GSI (Gabinete de Segurança Institucional)”.