Poder econômico, político e um controle significativo sobre o sistema financeiro internacional. A hegemonia do dólar como moeda referência no comércio mundial é crucial para a economia americana e, por isso, os Estados Unidos tendem a abafar qualquer tentativa de aproximação entre países que ameace fazer concorrência esse poder.

Ainda como presidente eleito, no final de 2024, Donald Trump já declarava que imporia tarifa comercial de 100% ao grupo de países que integram o Brics (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul) caso eles substituíssem o dólar por outra moeda nas negociações do bloco. Nas últimas semanas, após a cúpula do bloco econômico, o presidente  dos Estados Unidos desencadeou uma ofensiva contra o Brasil e a Rússia, que tem como pano de fundo disputas geopolíticas e econômicas.

“A China tem avançado, sobretudo na Ásia, nas economias menores que sofrem sanções dos EUA ou da Europa e fazendo a troca sem passar pelo dólar. Isso incomoda os EUA”, avalia um especialista no tema, destacando que esse é o início de um processo de redução da relevância do dólar.

Mas porque o medo de Trump?

Donald Trump

Donald Trump

A demanda global pelo dólar é importante para que os Estados Unidos tenham um mercado grande para vender sua dívida (títulos do tesouro) a taxas mais baixas. Como os países têm reservas em dólar, cria-se uma demanda natural pela moeda americana.

Além disso, as transações comerciais são feitas com o dólar como referência e alguns produtos, chamados de commodities, são cotados internacionalmente na moeda americana, como petróleo, soja e café. Essa característica confere ainda mais mais força para a moeda.

Um ponto sensível para qualquer economia é a dívida pública. Os Estados Unidos se endividam na própria moeda e, devido à confiança mundial no dólar, isso faz com que o governo se financie no mercado a um custo menor, permitindo investimentos em infraestrutura e programas sociais, por exemplo.

A hegemonia do dólar também garante mais influência em organismos internacionais, como o FMI e o Banco Mundial, e um poder estratégico que permite ao país impor sanções econômicas aos seus adversários. Como o dólar é considerado pelo mercado financeiro um refúgio em momentos de volatilidade, isso ajuda a estabilizar a economia dos Estados Unidos, bem como a controlar a inflação.

E quem definiu o dólar como padrão mundial?

A evolução do sistema monetário que predomina no mundo pode ser dividida em três fases: o padrão ouro, o sistema Bretton Woods e o atual, um regime de câmbio flutuante.

No padrão ouro, o valor da moeda de um país era fixado a partir da quantidade de ouro que a economia tinha nas suas reservas e isso era a referência para o comércio internacional. Mas com as guerras e a depressão dos anos 30, esse modelo se mostrou frágil e gerou instabilidade monetária global.

Por isso, em 1944, na cidade de Bretton Woods, nos EUA, foi estabelecido um acordo entre 45 países para criação de um sistema monetário com taxas fixas atreladas ao dólar. Na época, os Estados Unidos estavam com a indústria praticamente intacta e emergiram após a II Guerra Mundial como a maior potência econômica, ajudando na reconstrução de países destruídos, em especial, na Europa.

Além disso, os Estados Unidos tinham a maior reserva de ouro do mundo e havia segurança de que o país poderia garantir os dólares emitidos. Assim, o sistema dava estabilidade nas taxas de câmbio facilitando o comércio internacional.

Com o dólar se tornando uma reserva de valor, os países começaram a acumular a moeda americana, amplamente adotada nas transações comerciais, em suas reservas. A confiança na capacidade de os EUA honrarem sua dívida e a robustez da economia local sustentaram o modelo que durou até a década de 70.

Nessa época, os EUA emitiam mais moedas do que podiam respaldar em ouro e a confiança na moeda foi abalada. Mesmo com o fim do padrão Bretton Woods, ainda assim, o dólar manteve-se como referência no comércio internacional e como moeda de reserva para os bancos centrais no mundo até hoje, quando a maioria das moedas flutua livremente em relação ao dólar e a outras moedas. A taxa de câmbio é determinada pelo movimento de compra e venda dos mercados financeiros.

Mas, embora o dólar siga como referência, a diversificação monetária vem crescendo aos poucos e moedas como euro e o yuan ganham relevância, refletindo, entre outras coisas, a globalização com novas nas cadeias produtivas e mudanças tecnológicas.