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Por que o governo brasileiro ainda não sabe se vai retaliar os Estados Unidos

Duas missões diferentes, de diplomatas e empresários, foram aos Estados Unidos nas últimas semanas tentar negociar e entender os próximos passos do governo de Donald Trump. No entanto, não se sabe o que acontecerá a partir da próxima quarta-feira, 2

Foto: Freepik
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Sem parâmetros sobre o que, de fato, será implementado pelos Estados Unidos na guerra de tarifas do presidente Donald Trump, o governo brasileiro navega no escuro nas negociações com os representantes comerciais americanos. “As informações são desencontradas”, afirma um interlocutor oficial envolvido nas conversas entre os dois países.

Segundo ele, nas relações com a esfera técnica, a equipe brasileira tem apresentado números e questões concretas, “mas a Casa Branca não se comunica com essa lógica e a decisão caberá a uma única pessoa”, diz numa referência indireta a Trump. Por isso, a recomendação do momento para o setor produtivo é para “segurar o nervosismo”. E explica: “os elementos não estão na mesa, só dá para reagir ou refletir em cima de dados concretos”.

No último mês, desde que passou a valer a taxação de 25% sobre o aço e o alumínio importado, foram várias conversas entre o Brasil e os Estados Unidos, algumas, inclusive, com o vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin (Indústria e Comércio). Na semana passada, uma missão do Itamaraty foi a Washington negociar. Dias antes, uma comitiva de empresários também esteve lá para tentar entender o que poderá acontecer a partir da próxima quarta-feira, 2, quando entrará em vigor mais uma medida da política protecionista contra todos os parceiros comerciais, conforme anunciou o governo Trump.

Como as informações vindas de Washington ainda estão desencontradas - inicialmente o governo de lá divulgou que as tarifas seriam impostas, a partir de abril, para as 15 economias que respondem pelo déficit comercial americano – o Brasil acredita ser necessário “esperar para ver qual será a medida concreta”.

A relação comercial Brasil-EUA não é deficitária para os americanos. Os brasileiros compram mais do que vendem para os Estados Unidos. Com isso, em tese, o Brasil não seria alvo da taxação prevista para essa semana. Mas, no último final de semana, Trump sinalizou que as medidas protecionistas valerão para todos os países.

“Dependendo do impacto que houver, vamos reagir porque não vamos ficar só assistindo”, afirmou o interlocutor brasileiro. O presidente Lula chegou a dizer que o Brasil recorreria à OMC (Organização Mundial do Comércio). Mas a diplomacia brasileira sabe que isso será um gesto meramente político e sem garantias de reversão no curto prazo. Por isso, a postura dos negociadores brasileiros tem sido a de insistir nas negociações. Eles apostam que, na verdade, o governo Trump não quer taxar, mas chamar os países para sentar na mesa e fazer concessões para os americanos.

No caso do Brasil, há interesse em facilitar a entrada do etanol vindo de estados americanos que são fortes produtores e importantes apoiadores para eleição de Trump. Até agora, porém, as conversas não surtiram nenhum efeito prático, segundo os negociadores brasileiros. Ainda assim, somente depois de implementadas as supostas novas taxações, é que o governo do Brasil irá avaliar se retaliará os Estados Unidos com tarifas sobre importações de produtos americanos.

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