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PP, União e Republicanos costuram nomes para 2026 e já excluem clã Bolsonaro

Legendas de centro e de direita apostam na candidatura de Tarcísio, Caiado ou Ratinho Júnior, e descartam Michelle e filhos do ex-presidente

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Partidos de direita e centro-direita traçam cenários para uma candidatura a ser apoiada por um bloco em 2026 e excluem, desde já, uma possível participação do ex-presidente Jair Bolsonaro ou de seus familiares na disputa. As conversas incluem integrantes de partidos como União Brasil, PP, Republicanos e, possivelmente, o Podemos. Há tentativas também de atrair o PSD.

Para representantes desses partidos, Bolsonaro, por estar inelegível, é um nome descartado. Uma candidatura de sua esposa, Michelle Bolsonaro, não entusiasma o grupo por não ter densidade eleitoral, de acordo com a avaliação  predominante nessas tratativas.

Também é descartada a candidatura de um dos filhos do ex-presidente Bolsonaro, seja Flávio, Eduardo ou Carlos.
Flávio deve concorrer à reeleição ao Senado pelo Rio, e Eduardo pretende disputar o mesmo cargo, por São Paulo. Carlos, vereador no Rio, é tido como inexperiente.

Assim, legendas de direita e centro-direita constroem no momento um cenário com três nomes possíveis, todos governadores: Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo; Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás; e Ratinho Júnior (PSD), do Paraná.

O PSD pode vir a integrar a possível aliança, mas há dúvidas. Gilberto Kassab, o presidente nacional do partido, foi um dos arquitetos da candidatura vitoriosa de Tarcísio de Freitas ao governo de São Paulo e é um aliado do governador. Mas Kassab, que é da base do governo Lula – como também o União Brasil -, mantém posições dúbias em relação a um apoio ao presidente da República. Em janeiro, ele disse que, caso a eleição fosse hoje, Lula perderia. No mês seguinte, afirmou que Lula “é forte” e pode reverter o cenário.

Kassab deve demorar mais do que outros dirigentes partidários para declarar para qual lado deverá pender na próxima disputa presidencial. Sua decisão dependerá, principalmente, da opção de Tarcísio por concorrer ou não à Presidência.

As articulações para a formação de um bloco em torno do apoio a Tarcísio, Caiado ou Ratinho estão sendo conduzidas, entre outros, pelo deputado Marcos Pereira (SP), presidente do Republicanos. Até setembro ou outubro, nenhum dos articuladores desses acordos pretende se manifestar oficialmente. A ideia é aguardar uma definição do quadro eleitoral.

Dos três nomes, Caiado (foto) é o que mais se movimenta publicamente para se firmar como um postulante Planalto. No dia 4 de abril, o governador de Goiás vai lançar em Salvador sua pré-candidatura a presidente. Ontem, ele deu mais um passo nesse sentido, ao anunciar que terá como companheiro de chapa o cantor Gusttavo Lima (sem partido) em 2026. Nessa composição, afirmou, pode abrir mão de ser o candidato a presidente e concorrer como vice: “Nós estaremos juntos em 2026. A decisão de cabeça de chapa será em 2026″. A posição flexível se explica pelo fato de que, em pesquisas recentes, Lima aparece mais bem posicionado do que Caiado na corrida pela sucessão de Lula.

Só bolsonarista fala hoje em Bolsonaro
Um político do Republicanos disse, reservadamente, que só bolsonaristas falam hoje em candidatura de Jair Bolsonaro à Presidência, ou mesmo de Michelle Bolsonaro ou de algum dos filhos do ex-presidente. Há uma avaliação de que posturas radicais de Bolsonaro e a atuação de grupos ligados a ele identificados com a extrema direita têm desagradado eleitores conservadores de classe média.

Até parlamentares do PL, partido de Bolsonaro, estão descontentes com o ex-presidente da República. Conforme mostrou o PlatôBR em dezembro, dos 93 parlamentares da legenda 30 são “bolsonaristas raiz” continuam fiéis ao ex-presidente.

O restante estaria mais inclinado ao apoio a uma candidatura de direita moderada, rejeitando extremismos. O deputado João Carlos Bacelar (PL-BA), por exemplo, diz que seguiu ao lado do ex-presidente “até a boca do precipício”, no dia da eleição, mas depois “virou a página”. “Isso quase custou a minha eleição, por causa dessa minha posição. Aí, passou a eleição, eu virei a página, conforme o meu eleitor exigiu”, explica.

Parte dos deputados da bancada do PL começou a se afastar de Bolsonaro. Vários deles têm se aproximado do governo e, em determinados temas, votado junto com a base de Lula. Bacelar avalia que entre 20 e 30 parlamentares da bancada têm votado com o governo.

A aproximação em relação ao Planalto ficou clara no placar da votação da PEC do corte de gastos – que mudava as regras do abono salarial e dos supersalários do funcionalismo: 17 deputados do PL votaram em primeiro turno a favor da proposta defendida pelo governo Lula (71 foram contra) e 18 deram o aval novamente na votação em segundo turno (76 rejeitaram).

Nos bastidores, parlamentares do Republicanos e do União Brasil comentam que parte da bancada do PL nem sequer seria a favor, no momento, de uma eventual anistia política para Jair Bolsonaro e seus aliados encrencados com a Justiça. Publicamente, porém, nenhum deles confirma isso.

Também ao PlatôBR, o deputado Nelsi Coguetto Maria (PL-PR), conhecido como Vermelho, que também votou a favor da PEC do corte de gastos do governo, disse que os eleitores brasileiros hoje não são mais favoráveis a posições radicais nem de extrema direita nem de extrema esquerda. “A extrema esquerda e a extrema direita só fizeram mal ao Brasil”, disse o parlamentar.

Para o deputado, as últimas eleições municipais confirmaram essa impressão, ao eleger mais prefeitos de partidos como o PSD, o PP e o MDB. “O eleitor hoje tende muito mais a votar em posições de centro. E está rejeitando os extremismos”, afirmou.

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