Em meio à atual crise por intoxicações com metanol, o presidente da Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF), Marcos Camargo, alertou que os casos recentes ligam a luz para um problema antigo, mas persistente.

Camargo explicou ao programa Matinal, do canal Amado Mundo, que o metanol é um tipo de álcool que, ao ser metabolizado no organismo, transforma-se em compostos altamente tóxicos, como o formaldeído e o ácido fórmico. Essas substâncias atacam especialmente órgãos com grande consumo de energia, como os olhos, rins e o coração. Por isso, a cegueira é uma das primeiras e mais graves consequências, que surge até 48 horas após o consumo. Dores de cabeça, visão turva e vômito também estão entre os sintomas da intoxicação, que pode levar à morte.

Sequelas podem ser causadas mesmo por quantidades pequenas da substância. Doses a partir de 10 mililitros já podem comprometer a visão e o funcionamento dos rins. Em casos mais graves, com consumo entre 50 e 70 mililitros, há risco real de morte, mas tudo depende do metabolismo e da condição física de cada pessoa.

O presidente da APCF pontuou que o metanol não é colocado nas bebidas com intenção de matar, mas aparece por erro no processo de produção, geralmente clandestino, de destilados como vodca e cachaça. Para o consumidor, é quase impossível perceber.

“No processo correto, o metanol é separado do etanol. Mas quem faz isso de forma improvisada, para vender por R$ 5 a garrafa, não tem controle algum. O metanol se mistura completamente com o etanol. Tem o mesmo cheiro, o mesmo gosto. No drink, não tem como saber. Só um exame químico revela”, disse Camargo.

O especialista ressaltou que o consumidor só consegue perceber possíveis indícios de falsificação quando a bebida ainda está na garrafa. Lacres danificados, rótulos mal colados ou sedimentos estranhos podem ser sinais de adulteração.

Diante do risco, a orientação dos especialistas é desconfiar de preços muito baixos, priorizar marcas conhecidas e ficar atento a qualquer sintoma estranho após o consumo.

Os casos de intoxicação têm chamado atenção também por outro motivo: a possível participação do crime organizado. A polícia investiga se há envolvimento de facções, como o PCC, na fabricação ou distribuição das bebidas.

“É plausível imaginar que o crime organizado esteja por trás de parte da produção clandestina. Eles já atuam com combustíveis e cigarro. Não é estranho pensar que façam o mesmo com bebidas”, disse Marcos Camargo.