Aos olhos do seu partido, o PSB, o presidente do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), Rodrigo Agostinho, é visto como um ambientalista mais radical que a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Segundo membros da legenda, a permanência dele no órgão na reforma ministerial que se avizinha não é um ponto que o partido reclamará com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Membros da cúpula da sigla consideram estratégica a exploração de petróleo da margem equatorial pela Petrobras e não endossarão qualquer resistência à prospecção.
Além disso, a chegada de Agostinho ao Ibama no início do governo é tratada mais como resultado de uma articulação dele com a ministra do que com o partido e, por isso, o PSB não fará movimentos para mantê-lo no cargo se houver uma decisão do presidente de demiti-lo.
"Lenga-lenga"
Nesta quarta-feira, 12, Lula fez questão de demonstrar descontentamento com a demora do Ibama em analisar o projeto da Petrobras. O presidente falou em "lenga-lenga" do órgão sob a gestão de Agostinho.
Um detalhe chama atenção: na entrevista concedida a rádio Diário FM, de Macapá, Lula não chegou a ser questionado sobre a exploração na foz do Amazonas. Ele próprio tomou a iniciativa de defender a exploração. "Não é que eu vou mandar explorar, eu quero que ele seja explorado", disse. "Agora, antes de explorar, nós temos que pesquisar", ressalvou. "O que não dá é para a gente ficar nesse 'lenga-lenga'. O Ibama é um órgão do governo, parecendo que é um órgão contra o governo", atacou Lula, antes de começar a defender a Petrobras. "É uma empresa responsável, tem a maior experiência de exploração em águas profundas, vamos cumprir todos os ritos necessários para que não cause nenhum estrago na natureza".
A exploração de petróleo na margem equatorial é um dos principais planos da estatal, que prevê o investimento de US$ 3,1 bilhões para a perfuração de 16 poços na área que se estende pela costa do Amapá, Pará, Maranhão, Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte. A exploração é também uma defesa do atual presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), que pediu apoio a Lula para deslanchar o projeto. Lula se comprometeu a pressionar para que saia a licença.
A proposta apresentada pela Petrobras no fim do ano passado já contém modificações em relação ao projeto inicial para atender a condicionantes impostas pelo órgão ambiental. Uma delas é a instalação de uma base de atendimento a animais em caso de acidentes a 120 quilômetros do local de exploração. Antes, a base de socorro mais próxima ficava a cerca de 800 quilômetros da área de prospecção.
Há cerca de um mês, Lula chamou Agostinho ao Palácio do Planalto e cobrou as licenças, tanto para a exploração da Petrobras quanto para cerca de 90 obras de infraestrutura de transportes que se encontram paradas por falta de uma decisão do Ibama. O presidente do Ibama respondeu que os estudos estavam sob análise de técnicos do órgão e que uma decisão sobre cada processo de licenciamento não dependeria dele.
Marina
Essa não é a primeira vez que Lula contraria ambientalistas, inclusive os que estão dentro de seu governo como Marina e Agostinho. Em 2008, durante o segundo governo de Lula, essa contrariedade provocou um rompimento traumático com Marina, em meio divergências com a então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff que, mais tarde, acabou sendo escolhida por Lula para sucedê-lo na presidência. Ela deixou o cargo e no ano seguinte, se desfiliou do PT. Em 2010, lançou seu nome à Presidência da República, ficando em terceiro lugar. Os dois só reconciliaram no plano pessoal em 2012, quando Marina pediu para visitá-lo no hospital, onde Lula realizava um tratamento contra um câncer na garganta.
Na época, a versão mais difundida sobre os motivos da saída de Marina eram as divergências com Dilma sobre a construção da hidrelétrica de Belo Monte. Mais tarde, a própria ministra considerou que o estopim era mais em relação à estratégia para a contenção do desmatamento.
O PlatôBR tentou falar com Agostinho sobre o assunto, no entanto, não recebeu retorno. O espaço segue aberto para manifestações.