“Os poemas são minhas sementes, com as quais cultivo minhas palavras, do lavrado makuxi aos mundos.” Assim a pesquisadora e poeta Trudruá Dorrico espalha as sementes — e palavras — de seu povo Makuxi, resgatando não só a língua, mas toda a ancestralidade que carrega. A poeta lança em setembro “Makunaimã morî maiou: palavras belas de Makunaimã”, um livro de poesia em que a autora junta o português ao macuusi maimu, a língua dessa nação indígena.
Editado pelo Círculo de Poemas, o livro, uma plaquete, tem na capa uma ilustração da mãe de Truduá, Felicia Júlia Dorrico, com quem Trudruá aprendeu sua história e seus costumes. A poeta conta que vive um reencontro com a língua makuxi, que foi silenciada e não aprendida na infância pelo medo da perseguição. O livro traz ainda um glossário.
O povo makuxi vive e resiste em um território que ultrapassa fronteiras tradicionais: Brasil, Guiana e Venezuela. E é em Roraima que vive a maior parte de sua população. “Escrever me ensina a ser floresta: na forma da palavra-serpente, onça, omagon, pemongon, parixara, Maikan, Ani’kê, Insikiran, Aribá, o Monte e os sonhos que rezam o passado que me guia neste presente”, escreve a poeta.
A obra alterna versos autorais com pandoni — narrativas tradicionais que, para os Makuxi, não são mitos, mas memórias de um tempo em que os antepassados viviam com animais e forças da natureza em forma humana. Entre elas, estão “A história do fogo” e “A história da menina-moça e a raposa”, contadas tanto no idioma indígena quanto em português.
Nos poemas, Trudruá evoca a floresta, o lavrado, os rituais, as danças, a culinária e as práticas espirituais.
O livro fala da transformação de Makunaimã, o pajé-Deus Makuxi, em Macunaíma, personagem da literatura modernista brasileira, sem raízes indígenas, e propõe sua retomada como símbolo de orgulho e pertencimento.