Os culpados somos todos nós. Eu, você e todos aqueles que, sabe-se lá por que, ficamos horas e horas, dia após dia de alguma forma, dando espaço, falando e escrevendo duas ou três coisas sobre as andanças e ocorrências que envolvam o político Eduardo Bolsonaro. Digo político porque, na verdade, muita gente boa por aí nem sabe o que ele é de fato, além de ser filho de Jair Messias, o Bolsonaro. Até hoje alguns perguntam se ele é vereador, deputado ou senador.

A maioria, tenho a certeza, recorre ao google, ou alguma outra plataforma, na busca de informações corretas para acalorar discussões e debates em defesa, ou críticas ao parlamentar, que ganha estampa de famoso, sem nunca ter sido. A última questão que agora diz respeito a ele é essa estranha atitude, sem razão alguma, de fugir do Brasil para os Estados Unidos, se dizendo ameaçado pela justiça, medo de ser preso.

Eduardo nunca fez nada, absolutamente nada, que possa ser considerado algo de útil ao Brasil, e ao povo brasileiro. Claro que não tem um curriculum ruim, pelo contrário. É advogado, policial federal e sua fama de bom orador muitos já admitiram, mesmo sem apreciar a água da fonte que ele bebe. Com 41 anos de idade, nasceu em julho de 1984, atua na política desde 2015, quando venceu uma eleição em São Paulo.

Içado pelo nome do pai famoso, foi eleito deputado federal, embora seu DNA sempre o arraste para a conduta amadora, como se ainda fosse vereador. Quem, algum dia, teve a curiosidade de saber qual a vida pregressa do parlamentar saberá que por lá nada existe que justifique tanto barulho em torno de seu nome.

O saldo é negativo. Um de seus momentos de espaço na mídia foi em 2018 quando disse, sem meias palavras, que "para fechar o Supremo Tribunal Federal bastaria a ação de um cabo e um soldado", se desculpando por uma possível ofensa aos militares. Também mostrou seu lado fora da curva quando se disse a favor do AI-5, elogiando a trágica medida anunciada em 1968 pelos militares. Em outros pronunciamentos, todos raivosos e radicais, se disse contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo e deixou claro posições nada republicanas ao ofender e faltar com respeito a mulheres jornalistas, sempre que delas ouvia criticas ou perguntas que o contrariavam. No governo do presidente Bolsonaro chegou a ser cogitado para ser embaixador do Brasil nos Estados Unidos.

Seu nome foi rejeitado. Prestes a assumir a presidência da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional recusou o cargo, se licenciou da Câmara e anunciou mudança para os Estados Unidos. Lá, segundo ele, terá o apoio do presidente Trump e atuará fortemente contra as ações do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes.

O PL, seu partido, indicou para seu lugar o deputado Felipe Barros, de 33 anos, sem nenhuma experiência em política internacional, mas segundo o partido o nome perfeito para ser obediente a Bolsonaro por aqui. Levando-se em conta que Comissão de Relações Exteriores é de vital importância para as ações do Brasil no exterior, podemos ter dias sombrios pela frente.

Pena que seja assim. Para o nosso país, para os vizinhos mais próximos e aqueles com os quais ainda há questões sensíveis em debate. Juristas e políticos com larga experiência na vida parlamentar questionam o fato do deputado ter se licenciado do cargo, e se transferido para o exterior. As questões envolvem o regimento interno da Câmara, e outras pendências.

O lado político, por sua vez, divide a opinião de integrantes do partido. Alguns acham a atitude absurda e desnecessária, e outros acreditam na ilusória sensação de que a presença de Eduardo Bolsonaro junto ao governo americano trará transtornos à justiça brasileira. Difícil entender raciocínio tão pequeno e desapetrechado de consistência.

A ciência a cada dia avança mais, e nos brinda com curas fantásticas de males antes insuperáveis. Contra a burrice a ainda estamos rastejando. Por aqui Eduardo Bolsonaro nunca fez falta, e nunca fará.

José Natal é jornalista com passagem por grandes veículos de comunicação como Correio Braziliense, TV Brasília e TV Globo, onde foi diretor de redação, em Brasília, por quase 30 anos. Especializado em política, atuou como assessor de imprensa de parlamentares e ministros de Estado e, ainda, em campanhas eleitorais