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Reforma ministerial e sucessão: atenção para os próximos movimentos de Lula

Com queda preocupante na popularidade, o presidente prepara mudanças na equipe e abre o debate sobre o candidato do governo em 2026

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O governo chegou a um ponto delicado, com recorde de rejeição nas pesquisas, e uma insistente inflação dos alimentos, corrosiva para os bolsos e para a popularidade do presidente da República. A menos de dois anos do fim do mandato, Lula tem o desafio de garantir a estabilidade política, avançar na agenda econômica e encontrar respostas para a insatisfação do povo antes das eleições de 2026. Nesse cenário movediço, os próximos movimentos do petista merecem especial atenção de quem acompanha os poderes em Brasília.

Para tentar reverter a fase ruim, o presidente se lança às ruas. Lula vai anunciar esta semana investimentos nos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo. Em discursos e entrevistas, deve divulgar os feitos do governo, como recomenda o novo ministro da Secretaria de Comunicação, Sidônio Palmeira, que tem pela frente a difícil tarefa de reverter a impopularidade do presidente.

Ao mesmo tempo que divulga as ações do governo, a reforma ministerial aparece como o instrumento disponível, mais imediato, para Lula reagir ao momento desfavorável. Nesse sentido, as mudanças na Esplanada serviriam para evitar a debandada para a oposição de setores descolados da polarização, principalmente no espectro do Centrão. Com a popularidade em baixa, aumentam as exigências dos partidos para participar do governo.

Se de fato forem feitas, as trocas no primeiro escalão terão entre outros objetivos estancar o fortalecimento dos adversários. Vale, portanto, observar sob esse prisma os próximos lances do presidente na direção dos partidos e dos líderes políticos.

As dúvidas sobre o candidato do governo em 2026
Acima da reforma ministerial, paira uma dúvida monumental para o governo e para a oposição: Lula será candidato à reeleição? A queda de popularidade, certamente, desestimula o petista a se arriscar a mais uma disputa pelo Planalto. A hipótese de encerrar a carreira com uma derrota, ainda mais no exercício cargo, reduz consideravelmente o interesse do presidente pela empreitada.

Na última sexta-feira, 14, o próprio Lula se encarregou de incitar as especulações sobre sua sucessão. O presidente disse que não pode mentir para ele mesmo, lembrou que tem 79 anos e que somente será candidato se estiver com a saúde 100%. Recorde-se que o petista precisou se submeter a intervenções cirúrgicas na cabeça depois de uma queda no banheiro do Palácio da Alvorada.

Os próximos movimentos de Lula, então, podem trazer pistas do nome do governo para a chapa presidencial de 2026. Nessa perspectiva, a reforma ministerial também ajudará na amarração de alianças eleitorais para o ano que vem. A definição do candidato entra como um dos elementos considerados pelos líderes partidários nas mesas de negociações. Esse jogo já começou.

Momento favorável a Alckmin
Caso o candidato não seja Lula, quem será? Os nomes mais óbvios são Fernando Haddad e Geraldo Alckmin. Herdeiro de Lula no PT, o ministro da Fazenda tem o futuro atrelado ao desempenho na economia, com números favoráveis de crescimento do PIB e melhoras no emprego, na renda e na indústria, mas com o peso da responsabilidade sobre a alta nos preços, os juros altos e a alcunha de “taxad”.

Pelo andar da carruagem, o vice-presidente Geraldo Alckmin desponta como o mais bem posicionado dos nomes disponíveis do lado governista. Atua em total afinação com o petista, dispõe de bons resultados na indústria para apresentar e dialoga com facilidade com diferentes correntes da política, mesmo no campo conservador. Pode ser uma alternativa para ampliar a aliança, rumo ao centro e à centro-direita.

O apoio do PT a um candidato a presidente de outro partido seria inédito. Desde 1989, o partido lançou nomes próprios, e apenas três: Lula, Dilma Rousseff e Haddad. Mas o improvável também acontece na política: ninguém imaginava que um dia Alckmin seria vice de Lula, e aconteceu. Seria até um gesto de reciprocidade. As conversas sobre a sucessão estão na mesa, e Alckmin está na fila.

Prioridades do governo no Congresso
O Congresso começou o ano legislativo desacelerado, sem pautas de grande repercussão. As votações mais importantes, como a apreciação do Orçamento de 2025, ficam para depois do Carnaval. Para o governo, as prioridades são a agenda econômica e a estabilidade política.

Nesse sentido, Lula fez entendimentos com os novos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP) para aprovar os projetos mais relevantes, como o da isenção do imposto de renda - embora ainda não se saiba como compensar essa queda na receita.

No ponto mais sensível, o presidente esperar contar com a firmeza de Motta e de Alcolumbre contra tentativas de processos de impeachment. Outra pauta indesejada para o governo é a anistia dos condenados pelo 8 de janeiro. Nesse caso, os discursos dúbios do presidente da Câmara deixaram algumas dúvidas sobre suas intenções, mas o Planalto avalia que se trata apenas de uma satisfação à base bolsonarista.

Problema para a oposição: as denúncias do 8 de janeiro vêm aí
A oposição também vive um momento difícil. A partir desta semana, a qualquer momento, a Procuradoria Geral da República vai enviar ao STF as denúncias contra os idealizadores da tentativa de golpe de Estado no dia 8 de janeiro de 2023. Pelo relatório da Polícia Federal, são 40 indiciados. Conforme revelado pela colunista do PlatôBR Carolina Brígido, as acusações serão fatiadas e o ex-presidente Jair Bolsonaro estará na primeira leva.

Ainda não é possível prever o impacto das denúncias no cenário eleitoral de 2026. Para o governo, porém, o avanço dos processos representa uma esperança de desgaste para a oposição, que por enquanto comemora a queda de Lula nas pesquisas.

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