O prefeito de Maricá (RJ) e vice-presidente do PT, Washington Quaquá, publicou nas redes sociais críticas à megaoperação policial nos Complexos da Penha e do Alemão, gerando reação de autoridades e debates sobre segurança pública. Para ele, ações desse porte exigem planejamento conjunto entre União, Estado e municípios, além de presença contínua do Estado para garantir serviços públicos e segurança à população.

Quaquá reforçou que só a força policial não resolve o problema e defendeu políticas sociais como educação, cultura e oportunidades de trabalho como complementos essenciais ao combate ao crime. Ele também rebateu acusações de politização da operação, afirmando que divergências políticas não podem colocar a população refém da violência. Eis a entrevista:

O senhor disse que a operação foi “necessária, embora devesse ser melhor planejada”. Que tipo de planejamento ou estratégia faltou?
Uma operação desse porte não pode ser feita sem a participação do governo federal e das prefeituras, com inteligência, planejamento e organização. Além disso, era essencial ocupar a favela após a ação. A polícia deveria ter permanecido no território para que o Estado pudesse entrar, oferecer serviços e garantir dignidade à população, que é vítima e refém da violência.

E o que levou o senhor a concluir que a operação foi “necessária”?
Não se pode permitir, em hipótese alguma, que criminosos circulem com fuzis nas favelas, oprimindo e ameaçando os moradores. Quando isso acontece, a resposta do poder público precisa ser firme e dura. Em um Estado Democrático de Direito, o território deve ser controlado pelo poder público e não pelo crime organizado.

Alguns críticos dizem que operações policiais acabam sendo usadas politicamente e até de forma eleitoreira. O senhor acredita que isso está acontecendo no Rio? Por quê?
Ficou essa impressão porque o governo do estado tentou responsabilizar o governo federal pelas falhas ocorridas durante a ação. Reforço, por isso, a importância de planejamento e de ações integradas entre as três esferas de governo. A população não pode ser refém de rivalidades ou divergências políticas. Depois de eleitos, os governantes têm o dever de trabalhar juntos para defender os interesses do povo.

Sua posição sobre a operação diverge da visão de outros líderes do PT. Como o senhor avalia essa diferença dentro do partido e qual deve ser o papel do PT na discussão sobre segurança pública?
A segurança pública é um tema complexo, sem soluções mágicas ou imediatas. Mas não se pode tolerar que bandidos armados dominem territórios portando fuzis. As ações policiais são necessárias. Não se combate fuzil com flores. Parte da esquerda ainda não compreendeu isso, especialmente quem vive distante da realidade do povo, como os burgueses da Zona Sul. Por outro lado, só bala em bandido não resolve o problema. O Estado precisa estar presente nas comunidades com educação de qualidade, saúde, cultura, esporte e, principalmente, oportunidades de trabalho e renda. É isso que fazemos em Maricá: qualificamos, incentivamos o empreendedorismo e oferecemos alternativas concretas para os jovens.

Qual é a sua avaliação sobre os efeitos da operação na confiança da população nas forças de segurança?
Acredito que a grande maioria da população confia e apoia o trabalho das forças policiais. É claro que as operações precisam de estratégia e planejamento, sempre com o objetivo de proteger os moradores. O povo do Rio sabe a importância do trabalho da polícia para garantir a segurança e o direito de ir e vir.

Como prefeito de Maricá, como o senhor avalia o impacto dessas operações nas comunidades vizinhas e que medidas a prefeitura está adotando para evitar situações de domínio territorial?
Sempre que ocorre uma operação desse porte, é comum que o crime organizado tente migrar para outras regiões. Isso aconteceu durante o período das UPPs no Rio, quando os índices de criminalidade cresceram na Região Metropolitana. Por isso, reforço que as ações de segurança precisam ser integradas entre o governo federal, o estado e os municípios. Em Maricá, estamos monitorando desde terça-feira possíveis reflexos da operação nos Complexos da Penha e do Alemão, com equipes de prontidão no Ciosp (Centro Integrado de Operações na Segurança Pública) e no Comar (Centro de Operações de Maricá). Temos ações permanentes: reforçamos o policiamento por meio do Proeis (Programa Estadual de Integração na Segurança), ampliamos o sistema de câmeras inteligentes e aprovamos uma lei que autoriza a Guarda Municipal a portar armas de fogo, após treinamento rigoroso. Paralelamente, investimos fortemente em políticas públicas que transformam vidas. O Passaporte Universitário garante acesso ao ensino superior; estamos criando cursos de formação profissional voltados para turismo e empreendedorismo; e ampliamos investimentos em cultura e saúde. Quando o jovem tem oportunidade, ele escolhe o caminho do trabalho e de uma vida digna e não o do crime.