O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, confirmou oficialmente, durante entrevista ao Papo Amado, do canal Amado Mundo, que será candidato à Presidência da República nas eleições de 2026. Mas, em um tom direto, afirmou que “tudo é possível” na política — inclusive ocupar o posto de vice numa chapa encabeçada por outro nome da direita, como o governador do Paraná, Ratinho Júnior.

Ao longo de uma hora e meia de conversa, em sua casa na Pampulha, Zema fez críticas à política externa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, disse que o Brasil deveria deixar o grupo dos BRICS, defendeu o indulto ao ex-presidente Jair Bolsonaro e declarou que a direita deve se unir no segundo turno.

O governador também comentou sua trajetória empresarial como um diferencial frente a outros candidatos a presidente e apontou o desenvolvimentista Juscelino Kubitschek como inspiração — embora diga que seu objetivo é “ajudar o Brasil” a ter um crescimento sustentável, não baseado em “anabolizantes econômicos”.

A seguir, trechos da entrevista. Assista ao vídeo ao fim deste texto.

É candidato à Presidência da República?

Sim, sou candidato. Temos um grande desafio. Na política, tudo pode mudar até a data da eleição, mas já mostramos aqui em Minas que é possível reverter o desastre de uma gestão petista. Assumi um estado em calamidade financeira, com salários e fornecedores atrasados, e conseguimos pagar em dia, reequilibrar as contas e criar um ambiente de crescimento acima da média do Brasil. Essa experiência é o que me motiva a disputar a Presidência: provar que o que funcionou aqui pode funcionar no país.

Você tiraria mesmo o Brasil dos BRICS?

Tiraria, imediatamente. Quero manter a melhor relação possível com todos, inclusive China e Índia, mas os BRICS são um bloco criado por motivações ideológicas. O que esses países têm em comum, além de serem populosos? Muito pouco. E boa parte deles não é democrática. O Brasil não precisa se alinhar a regimes autoritários para ter boas relações comerciais. É possível preservar nossos maiores mercados sem estar preso a um grupo que serve mais para agenda política do que para gerar benefícios concretos.

O governo dos EUA justificou o tarifaço contra o Brasil por “perseguição a Bolsonaro”, mas você atribui a retaliação a erros de Lula.

Não vejo contradição. O presidente Trump se aproveitou de um episódio para justificar a medida, mas fez algo semelhante contra a Índia, que não tem ligação com Bolsonaro. Os EUA, pelo seu poder econômico, estão reagindo a posturas de países do BRICS, que têm questionado o dólar e feito ameaças ao Ocidente. O ponto é: o Brasil deveria ter relações mais pragmáticas e respeitosas com seus principais clientes, para não dar pretextos que facilitem retaliações comerciais que nos prejudicam muito mais do que a eles.

Mas o Bolsonaro atacou a China, inclusive, de maneira xenófoba, durante o governo dele. E os chineses são os nossos maiores clientes.

Cliente a gente trata bem, você entendeu? Qualquer país do mundo que queira comprar produtos brasileiros, eu acho que nós temos de estar aptos a poder atender. É ter relações civilizadas como nós já tivemos no passado, entende? Isso é o que me parece que está faltando. Intervir em nenhum país do mundo, acho que soberania tem de ser respeitada, acho que aqui ninguém deve intervir também. Sou contra qualquer intervenção aqui.

Em 9 de janeiro de 2023, o governo de Minas divulgou nota falando em “atentados contra a democracia” no 8 de Janeiro. Você mudou de posição?

Naquele momento, no dia seguinte, sem apuração completa, todos os governadores reagiram sob forte pressão política e emocional. A invasão ao Supremo e ao Planalto foi inédita e chocante. Depois, surgiram informações de que parte das imagens de segurança do Palácio do Planalto não foi divulgada, o que levanta dúvidas sobre tudo o que aconteceu. Minha posição é que é preciso investigar com total transparência, sem versões parciais.

Não, tudo foi mostrado, não há câmera desconhecida. A gente, inclusive, viu o comportamento de gente do governo que foi criticada, até um ministro foi demitido. Mudando de assunto, você indultaria Bolsonaro, caso eleito?

Sim. Enquanto não resolvermos essa questão, ficaremos presos a um passado que divide o país e impede avanços. Hoje temos pessoas presas ou com tornozeleira sem terem praticado atos concretos contra a democracia. Algumas podem ter desejado algo, mas pensar e agir são coisas diferentes. Resolver essa situação é uma forma de pacificar o ambiente político e permitir que voltemos a debater o que importa para a população: emprego, saúde, segurança e educação.

E se fosse convidado a ser vice de Ratinho Júnior, como se vem cogitando?

Tudo pode acontecer na política. Mas meu histórico é de montar e liderar equipes, tanto na iniciativa privada quanto no governo. Me sinto mais apto criando estratégias e coordenando times do que sendo apenas parte de um. No entanto, minha prioridade é contribuir para uma gestão eficiente no Brasil, e isso pode acontecer de diferentes formas.

Você apoiaria um integrante da família Bolsonaro à Presidência?

Num segundo turno, contra a esquerda, sim. A direita precisa estar unida nessa fase. No primeiro turno, cada um apresenta seu projeto, mas, no segundo, é preciso convergir para evitar que um projeto que considero nocivo — o da esquerda — volte a comandar o país. O interesse nacional deve estar acima de disputas internas.

Quais as diferenças entre você e Bolsonaro?

Tenho histórico empresarial: peguei negócios pequenos e os transformei em empresas grandes, sempre priorizando gestão e equipes competentes. Não venho de família política, não entrei na política por ambição pessoal, mas por indignação com o que via. Procuro evitar o confronto pelo confronto e prefiro o diálogo quando possível. Sou gestor antes de ser político.

O Partido Novo virou linha auxiliar do bolsonarismo?

Não. O Novo tem princípios claros: Estado enxuto, liberdade econômica, gestão técnica e transparência. Podemos concordar com o bolsonarismo em algumas pautas, especialmente na economia, mas não somos satélite de ninguém. Nosso projeto é de longo prazo e busca mudar a cultura política do país.

Onde estará Romeu Zema em 2027?

Depende de muitos fatores. Quero estar em uma posição que permita ajudar o Brasil a crescer de forma sólida. Hoje temos uma economia “movida a anabolizantes”, baseada em gastos públicos que geram crescimento artificial e de curto prazo, mas que resultam em inflação e juros altos. Quero contribuir para um país competitivo, fiscalmente responsável e aberto ao investimento. O destino, deixo para Deus.